Governo do Rio aprova instalação de quatro termelétricas flutuantes na Baía de Sepetiba
30 de março de 2022

Apesar de ser classificado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) como de alto potencial poluidor e “porte excepcional”, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, aprovou – sem estudo de impacto ambiental – , a instalação de quatro usinas termelétricas flutuantes, uma unidade flutuante de armazenamento de gás e 36 torres de linha de transmissão na Baía de Sepetiba, localizada no litoral sudoeste do estado, no entorno dos municípios de Mangaratiba, Itaguaí e Guaratiba.

O projeto da multinacional da Turquia do setor de energia, Karpowership, passará pelo espelho d’água da baía, além de áreas de mangue e Mata Atlântica. Segundo denúncias da organização Baía de Sepetiba Viva também não foi realizada a Análise de Riscos e Acidentes Ambientais e o Plano de Emergência Individual, estudos esses exigidos por lei.

Mas como foi considerado “estratégico” pelo governo do Rio, o empreendimento com custo estimado em R$ 3,1 bilhões foi aprovado rapidamente no ano passado, quando no Brasil todo enfrentava-se uma grave crise hídrica e havia riscos de um racionamento por falta de energia.

Para agilizar a instalação de toda a estrutura, que terá capacidade de produção de 560 megawatts de energia, o Inea autorizou que o processo de licenciamento fosse “fracionado”, sem que haja uma avaliação global de todas as suas etapas e respectivos impactos e riscos associados.

Vale ressaltar que o projeto é temporário. Só terá duração de 44 meses e após esse período, tudo será removido.

Em nota enviada ao portal de notícias G1, a Karpowership afirmou que “o projeto de geração de energia da Karpowership, localizado na Baía de Sepetiba, atende aos mais rigorosos requisitos ambientais brasileiros e internacionais. As operações dos navios com usinas termelétricas (Powerships, em inglês) têm certificações emitidas por entidades reconhecidas internacionalmente”. A companhia destacou ainda que a instalação por tempo determinado da operação “têm impacto ambiental substancialmente menor do que a construção e operação de uma termelétrica em terra”. 

Segunda uma reportagem do site (o)ecco, todo o processo para a finalização do contrato entre o governo do Rio de Janeiro e a multinacional foi feito silenciosamente e rapidamente nos bastidores. Em outubro de 2021, as empresas Karpowership Brasil Energia Ltda e Karpowership Futura Energia Ltda foram registradas no Brasil e no mesmo mês já participaram do leilão de energia promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A biodiversidade da Baía de Sepetiba em risco

A Baía de Sepetiba é uma área muito importante tanto para a conservação ambiental como para a economia local. Além de gerar renda através do turismo, garante o sustento de centenas de comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Também é habitat de espécies marinhas ameaçadas de extinção, como a tartaruga-cabeçuda, o mero e o boto cinza – é ali que se encontra a maior concentração de desses golfinhos do planeta.

“Essas termelétricas a gás jogam e recolhem água no mar e ao jogá-la de volta essa água está clorada e abaixo da temperatura ambiente. Isso pode causar um grande problema para a fauna local. Existem vários microrganismos que morrem com cloro”, explicou Leonardo Flach, coordenador científico do Instituto Boto Cinza, ao G1.

 

No próximo dia 5 de abril será realizada uma audiência pública na Comissão de Saneamento Ambiental da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para debater o assunto.

Até lá, se você acredita que o processo precisa ter mais transparência e é essencial que a apresentação de um estudo de impacto ambiental, assine essa petição online para pressionar as autoridades – NÃO às termelétricas na Baía de Sepetiba! NÃO ao retrocesso ambiental!

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Governo do Rio aprova instalação de quatro termelétricas flutuantes na Baía de Sepetiba, sem estudo de impacto ambiental, denunciam especialistas

Foto: Instituto Boto-Cinza


Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

Fonte: Conexão Planeta

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