Em 2018, uma em cada 10 crianças não foi vacinada contra doenças que podem ser fatais
16 de julho de 2019

Os dados mundiais da Organização das Nações Unidas (ONU) se referem à imunização contra sarampo, difteria e tétano

Mais de uma em cada dez crianças — ou 20 milhões em todo o mundo — perderam vacinas importantes em 2018 contra doenças potencialmente fatais, como o sarampo, a difteria e o tétano. Esse dado alarmante foi divulgado nesta segunda-feira (15) pela Organização Mundial de Saúde (ONU) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Ainda segundo o relatório, o nível global de cobertura da vacinação dessas doenças está em cerca de 86%. Apesar de ser considerado elevado, não é o suficiente. As agências destacam que é necessária uma cobertura de 95% entre países e comunidades em todo o mundo para que se possa proteger as crianças contra os surtos das doenças.

Os dados revelam que grande parte das crianças que não foram vacinadas vive nos países mais pobres, em nações que vivem em conflitos ou são afetadas por eles de alguma forma. Quase metade do total de crianças não vacinadas estão nesse 16 países: Afeganistão, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Etiópia, Haiti, Iraque, Mali, Níger, Nigéria, Paquistão, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iêmen. De acordo com as agências da ONU, se essas crianças ficarem doentes, elas correm o risco de sofrer as consequências mais graves. Em pararelo a isso, elas têm menor oportunidade de acesso a tratamentos e cuidados de saúde que salvam vidas.

SURTOS DE SARAMPO

Segundo a ONU, as grandes disparidades no acesso a vacinas acontecem em países de todos os níveis de rendimento. A situação resultou em surtos de sarampo em muitas partes do mundo, incluindo em países com altas taxas de vacinação em geral. Em 2018, quase 350 mil casos de sarampo foram registrados, mais que o dobro de 2017.

No topo da lista de incidência da doença em 2018 está a Ucrânia. Lá, apesar da vacinação ter tido uma cobertura de 90% no ano passado, os baixos índices dos anos anteriores deixaram um grande número de pessoas em risco. Assim como na Ucrânia, várias nações com alta incidência e cobertura têm grupos significativos de pessoas que não foram vacinadas. Essa situação “demonstra como a baixa cobertura ao longo do tempo ou comunidades distintas de pessoas não vacinadas podem desencadear surtos mortais”, diz a ONU.

PALAVRAS DE ESPECIALISTAS

Para a infectologista Raquel Muarrek, da Infecto Clin Vacinas (SP), esse número mostra a fragilidade universal. “Ainda existem muitos países com dificuldade de fazer a vacinação em massa e estamos suscetíveis a novos surtos”, explica. “Uma cobertura menor que 95% não evita surto. As pessoas vacinadas ajudam as pessoas que não podem ser vacinadas. Então, não vacinar ou não entender a gravidade disso nos coloca em risco de apresentar altos números de doenças completamente evitáveis através da vacina”, diz.

Já o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Sociedade Americana de Pediatria, afirma que “não vacinar uma criança é como um crime”. “Criança vacinada é criança saudável. A proteção começa com a vacina. Ela impede e dificulta o aparecimento de várias doenças que podem ser extremamente lesivas. A vacina contra a difteria, o tétano e a coqueluche deve ser dada já aos dois meses de vida. Eu costumo falar que brincar com criança é brincar de bola, de esconde esconde, não brincar com a saúde. Não podemos brincar com a vacinação. Vinte milhões de crianças não vacinadas são 20 milhões de crianças potencialmente doentes”, finalizou.

Fonte: Crescer