Cisma do Ocidente na Igreja Católica passou a ter três papas e uma crise de poder
5 de junho de 2022

O Cisma do Ocidente ou Grande Cisma foi uma crise papal da Igreja Católica, ocorrida no final da Idade Média, entre 1378 e 1417 que, por quase quarenta anos, dividiu a cristandade católica em dois papas rivais.

O cisma foi consequência da permanência do Papado na cidade francesa de Avignon por quase setenta anos (1309-1378). Ali residiram sete papas seguidos, no período que ficou conhecido como o Papado de Avignon.

Em 1377, o papa Gregório XI decidido a retomar o trono de São Pedro regressou a Roma onde faleceu pouco tempo depois. A população italiana, desejando que o papado fosse restabelecido em Roma, pressionou a eleição de um papa romano. Foi eleito o italiano Urbano VI. O novo papa, contudo, de forte temperamento autoritário, logo entrou em atrito com os cardeais. Insatisfeitos, um grupo de 13 cardeais, retirou-se de Roma e iniciou uma campanha contra Urbano VI, preparando-se para uma segunda eleição.

Em 20 de setembro de 1378, eles escolheram um novo papa que tomou o nome de Clemente VII. Este instalou sua residência em Avignon. O Cisma do Ocidente começava. Por quase quarenta anos, a cristandade europeia ficou dividida entre dois papas simultâneos, um em Avignon e outro Roma.

Teve, ainda, por um curto período, um terceiro papa residente em Pisa. Os papas de Avignon e de Pisa foram chamados de antipapas. Ilustração em um mapa medieval mostra Roma personificada como uma viúva de luto que sofre a perda do papado.

Grande Cisma do Ocidente

Contexto: a crise do séc. XIV

Biblioteca Nacional da França. Contexto: a crise do séc. XIV O Grande Cisma do Ocidente (1378-1417) insere-se no período em que a Europa passava por crises e dificuldades: a Crise do Séc. XIV, causada por motivos diversos.

 

O crescimento e a prosperidade que, até então, vinham acontecendo foram estancados pelo colapso demográfico (Peste Negra e Fome), a instabilidade política, as revoltas religiosas (heresias) e populares, como a Jacquerie (1358) e a Revolta camponesa de 1381.

Para agravar a situação, ocorreram constantes guerras como a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre Inglaterra e França que acentuou a penúria europeia. O sistema feudal estava se transformando e não atendia mais às necessidades de uma sociedade em mudança. A moeda, cada vez mais em evidência por força do desenvolvimento urbano e comercial, abalou a poderosa ordem dos senhores feudais.

Em declínio, muitos procuraram novas fontes de lucro, entre elas, a guerra e o banditismo, formando companhias de mercenários a serviço de reis e de cidades. A Igreja Católica não tinha mais o papel cultural e social hegemônico que possuía desde início da Idade Média. Enfraquecida, ia perdendo força no jogo político. Enquanto isso, os monarcas europeus fortaleciam seu poder. Ocorria, então, a formação dos Estados-nação (monarquias nacionais).

Poder espiritual x poder temporal

Duas forças poderosas e antagônicas, uma em declínio e outra em ascensão, logo entrariam em choque. Exemplo disso foi o célebre episódio entre o Bonifácio VIII, “o papa que desejava ser também imperador “ (ARNALDI, 2002, p.584), e o rei da França Filipe IV, o Belo, que se recusava a obedecer ao papa.

O rei francês não admitia qualquer poder fora de seu controle e, com isso, entrou em conflito com Bonifácio VIII que alegava o direito papal sobre todos os homens, mesmo os soberanos. As tensões entre ambos cresceram com ameaças mútuas.

Na noite de 7 para 8 de setembro de 1303, tropas francesas com 600 cavaleiros e 1500 peões, investiram contra a pequena cidade de Anagni, onde o papa residia durante o verão. Obrigaram os guardas do castelo a lhes abrirem passagem e foram aos aposentos do papa.Grande Cisma do Ocidente

O chefe das tropas francesas, Sciarra Colonna, dá um tapa no rosto do papa Bonifácio (1303), o desdobramento desse episódio foi a transferência do papado para Avignon.

Gravura de François Guizot, 1882 Em uma cena humilhante, insultaram o papa e exigiram sua renúncia. Ante a negativa e arrogância deste, o chefe da tropa esbofeteou Bonifácio VIII, com a mão coberta pela luva de ferro da armadura.

Sob a violência do golpe, o papa caiu no chão onde recebeu novos golpes. O papa morreu um mês depois enlouquecido e desmemoriado. Seu sucessor, Bento XI intimou os atacantes e o rei da França. Mas o processo não avançou já que o papa morreu nove meses depois sob suspeita de envenenamento.

Elegeu-se novo papa, Clemente V, de origem francesa. Este, cooperando com o rei francês suspendeu todas as sentenças contra Felipe IV e seus assessores e, em 1309, concordou em mudar a sede do papado para Avignon, além de dar uma grande ajuda ao rei na supressão da Ordem dos Templários.

A atitude de Felipe IV, enfraqueceu o poder temporal do papado e colaborou para diminuir a noção teocêntrica, característica da Idade Média.

O Grande Cisma do Ocidente (1378 a 1417)

Por quase setenta anos, a cidade francesa de Avignon foi residência dos papas até que, em 1377, o papa Gregório XI decidiu regressar a Roma, onde faleceu pouco tempo depois.

Seguiu-se então a escolha de novo papa sendo eleito o italiano Urbano VI. Sua escolha foi contestada por um grupo de cardeais, na maioria franceses, que, em 20 de setembro elegeram o francês Clemente VII. Este assumiu sua residência em Avignon. O Cisma do Ocidente começava com a existência de dois papas eleitos: Urbano VI, em Roma, e o antipapa Clemente VII, em Avignon.

Palácio do papa em Avignon.

A Europa dividida entre dois papas

O conflito rapidamente deixou de ser um assunto da Igreja para se tornar um incidente diplomático que dividiu a Europa. Clemente VII mantinha relações com as principais famílias reais europeias e elas lhe deram apoio assim como os aliados da França. Assim, ficaram ao lado do antipapa de Avignon: França, Nápoles, Castela, Aragão, Leão, Chipre, Borgonha, Condado de Saboia, Escócia, ducados de Lorena, Bretanha, Áustria e Luxemburgo.

Em apoio ao papa Urbano VI, de Roma, juntaram-se Inglaterra e Flandres (inimigos do reino da França), o Sacro Império, Hungria, Polônia, Portugal, Dinamarca, Noruega, Suécia, Irlanda, norte da Itália.

Grande Cisma do Ocidente

Mapa histórico do Grande Cisma do Ocidente. AZUL: reinos que reconhecem o papa de Roma. LARANJA: reinos que reconhecem o papa de Avignon. AMARELO: estados que mudaram de posição durante o cisma. (Nota: o mapa é meramente ilustrativo e pode conter imprecisões históricas).

Muitas alianças oscilaram durante o período do Grande Cisma e reinos mudaram de posição. Seja como for, a Europa ficou dividida por quase quarenta anos. Os papas excomungaram-se mutuamente, nomeando outros cardeais para compensar as deserções, enviando mensageiros para a cristandade em defesa de sua causa e estabelecendo sua própria administração.

O fim do Cisma do Ocidente

O Concílio de Constança, realizado entre 1414 e 1418 tomou para si a tarefa de acabar com o cisma papal. Quando o concílio foi convocado, havia três papas, todos clamando legitimidade: Bento XIII (Avignon), João XXIII (Pisa) e Gregório XII (Roma).

Com apoio do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o concílio recomendou que todos os três papas abdicassem, e que um outro fosse escolhido. O papa Gregório XII foi o único dos três que apresentou sua renúncia; dois anos depois retirou-se de suas funções eclesiásticas. Os outros dois papas recusaram-se o que demandou negociações que envolveram os poderes ecumênicos e seculares (monarcas ingleses, franceses e alemães).

Ao final, Bento XIII refugiou-se em Peníscola, na Espanha onde morreu em 1423 convencido de seu estatuto. João XXIII foi acusado de vários crimes e, preso, foi levado ao cárcere de Pisa em 1415.

Bispos debatendo com o papa João XXIII no Concilio de Constança, c.1460-1465.

Em 11 de novembro de 1417, o Concílio de Constança elegeu novo papa – o italiano Martinho V – e com ele restabeleceu-se a unidade papal. Martinho V deixou Constança no encerramento do concílio (maio de 1418) e embarcou em uma longa jornada pela Itália parando em diversas cidades. Permaneceu em Florença um ano e meio aguardando o fim dos conflitos em Roma.

Em 30 de setembro de 1420, entrou na cidade protegido pelas tropas do reino de Nápoles e junto com a rainha Joana II. Roma voltara a ser a Santa Sé da cristandade católica, mas o prestígio do papado estava profundamente afetado e a indispensável reforma da Igreja ainda estava por vir – o que só aconteceria um século depois com a Reforma e a Contra-Reforma.

Grande Cisma do Ocidente

Sucessão de Papas durante o Grande Cisma do Ocidente Fonte ARNALDI, Girolamo. Igreja e papado.

Fontes: LE GOFF, Jcques; SCHMITT, Jean-Claude (coord.). Dicionário temático do Ocidente Medieval, v.2. Bauru, SP: EDUSC; São Pualo, So: Imprensa Oficial do Estado, 2002. ALBERIGO, Guiuseppe (dir.) História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1995. COMBY, J. Para ler a História da Igreja. Das origens ao século XV. 1 vol. São Paulo: Loyola, 1993. SOUTHERN, R. W. A Igreja Medieval. Lisboa: Editora Ulisseia, s/d. HOLMES, J. Derek; BICKERS, Bernard W. História da Igreja Católica. Lisboa: Edições 70, 2006. WOODS JR., Thomas. Como a igreja católica construiu a civilização ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008.

Fonte: Ensinar História

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