Baixada Fluminense teve 640 tiroteios em 2023
3 de fevereiro de 2024

Região do Grande Rio teve um total de 2.953 tiroteios, aponta Relatório Anual do Instituto Fogo Cruzado

O ano de 2023 chegou ao fim batendo recorde de crianças baleadas, elevando a proporção de tiroteios com vítimas e com piora nos índices da violência armada na Zona Oeste da capital fluminense. As informações fazem parte do relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, lançado nesta segunda-feira (29).

Ainda nas primeiras horas de 2023, Juan Davi de Souza Faria, de 11 anos, foi morto por uma bala perdida durante a comemoração do réveillon em Mesquita, na Baixada Fluminense. O menino estava na varanda de casa quando foi atingido. Juan foi uma das 25 crianças baleadas na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2023, ano em que o número de crianças baleadas bateu recorde considerando toda a série histórica do Instituto Fogo Cruzado, desde julho de 2016. Ao menos 25 crianças foram baleadas, número que se iguala à marca de 2018. 2023, no entanto, foi mais letal: das 25 crianças baleadas, 10 morreram. Em 2018, das 25 baleadas, quatro morreram.

Crianças baleadas ao longo dos anos:

  • 2023: 25 vítimas – 10 mortas e 15 feridas

  • 2022: 8 vítimas – 2 mortas e 6 feridas

  • 2021: 17 vítimas – 4 mortas e 13 feridas

  • 2020: 22 vítimas – 8 mortas e 14 feridas

  • 2019: 23 vítimas – 6 mortas e 17 feridas

  • 2018: 25 vítimas – 4 mortas e 21 feridas

  • 2017: 19 vítimas – 7 mortas e 12 feridas

Para Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, a letalidade entre crianças foi o marco do ano.

“A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças mortas e feridas. A gente sabe que não são casos isolados. A juventude é alvo constante e os dados do Fogo Cruzado mostram isso de maneira muito nítida. É inacreditável esses números existirem e não termos nenhuma política de segurança que funcione como resposta a eles. Parece que ninguém se importa. Esses dados precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública. Em nenhum lugar do mundo tantas crianças são baleadas sem que a sociedade se indigne. Aqui não pode ser diferente. As pessoas precisam se importar e os governantes precisam agir”.

 

O ano também foi de alta letalidade nos tiroteios, que passaram a registrar cada vez mais vítimas. Dos 2.953 tiroteios mapeados ao longo de 2023, houve mortos e/ou feridos em 41% deles. Em 2022, a proporção de tiroteios que terminaram com vítimas foi de 36%; em 2021 foi de 29%; em 2020 foi de 26%; em 2019 foi de 26%; em 2018 foi de 20%; e em 2017 foi de 33%.

Outro dado que chamou a atenção ao longo do ano foi a piora da violência armada na Zona Oeste. A região teve aumento de 53% no número de tiroteios. A quantidade de mortos mais que dobrou (aumento de 104%) e cresceu em 40% a quantidade de feridos, nos dados em comparação com 2022. Todas as outras regiões do Grande Rio tiveram queda nestes indicadores.

 

“Vimos a violência explodir em pontos afastados do centro da capital. Sozinha, a Zona Oeste do Rio de Janeiro concentrou 29% dos tiroteios ocorridos no Grande Rio em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos. É uma tragédia. Dados como os do relatório anual nos mostram a falta de planejamento para conter a violência armada no Estado, sobretudo na região metropolitana”, afirmou o coordenador.

O ano em dados

Em 2023, houve 2.953 tiroteios/disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro. Em média, foi como se houvesse oito tiroteios por dia ao longo do ano. Apesar de elevado, o número indica uma queda de 18% nos registros em comparação com 2022, que acumulou 3.589 tiroteios.

Entre os 2.953 tiroteios mapeados ao longo do ano, 34% deles (999 registros) ocorreram durante ações e operações policiais. É como se a cada três tiroteios mapeados na região metropolitana, um tivesse ocorrido em ações ou operações policiais. Em 2022, dos 3.589 tiroteios mapeados, 35% deles (1.251) ocorreram nestas circunstâncias.

O número de baleados também diminuiu em 2023. Apesar disso, houve em média cinco pessoas baleadas por dia. Ao todo, 1.846 pessoas foram baleadas na região metropolitana: 962 morreram e 884 ficaram feridas. O número de mortos teve uma queda de 3% e o de feridos, uma queda de 13% em comparação com 2022 que acumulou 2.002 baleados, sendo 987 mortos e 1.015 feridos.

 

Apesar da queda nos índices entre os baleados, 2023 foi o ano onde os tiroteios foram mais precisos em toda série histórica do Instituto Fogo Cruzado. Em 2023, dos 2.953 tiroteios, 41% deles resultaram em mortos e/ou feridos. Em 2022, dos 3.589 tiroteios, 36% resultaram em vítimas.

Das 1.846 pessoas que foram baleadas na região metropolitana do Rio em 2023, 53% delas (977) foram atingidas em tiroteios durante ações e operações policiais. Ao todo, 407 pessoas foram mortas e 570 ficaram feridas nestas circunstâncias. Em 2022, das 2.002 pessoas baleadas, 66% delas (1.323) foram atingidas em tiroteios durante ações e operações policiais: 569 morreram e 754 ficaram feridas.

O mapa da violência armada

Regiões

Entre as seis regiões que compõem o Grande Rio, a Zona Norte concentrou 33% do total de tiroteios mapeados no ano. A Zona Oeste teve o maior número de mortos por arma de fogo, e a Baixada Fluminense concentrou o maior número de feridos. A distribuição da violência armada em 2023 se deu da seguinte forma:

  • Zona Norte (Capital): 973 tiroteios, 214 mortos e 229 feridos

  • Zona Oeste (Capital): 860 tiroteios, 281 mortos e 205 feridos

  • Baixada Fluminense: 640 tiroteios, 261 mortos e 236 feridos

  • Leste Metropolitano: 333 tiroteios, 170 mortos e 175 feridos

  • Centro (Capital): 89 tiroteios, 30 mortos e 26 feridos

  • Zona Sul (Capital): 58 tiroteios, 6 mortos e 12 feridos

2023 foi um ano violento para os moradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Enquanto as regiões da Zona Norte, Baixada Fluminense, Centro, Zona Sul e Leste Metropolitano tiveram queda nos tiroteios, a Zona Oeste da capital viu o número de tiroteios crescer 53%, o número de mortos subir 104% e o de feridos, 40% em comparação com 2022. Em 2022, a distribuição da violência armada ficou da seguinte forma:

  • Zona Norte: 1.390 tiroteios, 288 mortos e 289 feridos

  • Baixada Fluminense: 893 tiroteios, 303 mortos e 282 feridos

  • Zona Oeste: 561 tiroteios, 138 mortos e 146 feridos

  • Leste Metropolitano: 525 tiroteios, 231 mortos e 239 feridos

  • Centro: 151 tiroteios, 22 mortos e 26 feridos

  • Zona Sul: 69 tiroteios, 5 mortos e 17 feridos

Municípios

O Rio de Janeiro concentrou 67% dos tiroteios, 55% dos mortos e 53,5% dos feridos mapeados em 2023. Os municípios da região metropolitana do Rio mais afetados pela violência armada foram:

  • Rio de Janeiro: 1.980 tiroteios, 531 mortos e 473 feridos

  • Duque de Caxias: 177 tiroteios, 74 mortos e 63 feridos

  • São Gonçalo: 162 tiroteios, 75 mortos e 92 feridos

  • Nova Iguaçu: 120 tiroteios, 58 mortos e 33 feridos

  • São João de Meriti: 114 tiroteios, 31 mortos e 34 feridos

Bairros

Acompanhando a tendência de aumento entre os índices da Zona Oeste, os bairros da região metropolitana do Rio de Janeiro mais afetados pela violência armada pertencem à região:

  • Praça Seca (Rio de Janeiro): 151 tiroteios, 16 mortos e 27 feridos

  • Vila Kennedy (Rio de Janeiro): 94 tiroteios, 16 mortos e 6 feridos

  • Bangu (Rio de Janeiro): 71 tiroteios, 21 mortos e 15 feridos

  • Tanque (Rio de Janeiro): 66 tiroteios, 16 mortos e 16 feridos

  • Cidade de Deus (Rio de Janeiro): 65 tiroteios, 11 mortos e 4 feridos

Locais

91 pessoas foram baleadas quando estavam dentro de automóveis, outras 64 foram atingidas quando estavam dentro de casa e 59 atingidas quando estavam dentro de bares. Oito pessoas foram baleadas quando estavam em postos de combustível e outras oito foram atingidas dentro de transporte público.

O perfil da violência armada

Agentes de segurança

Ao menos 134 agentes de segurança foram baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2023, entre essas vítimas, 60 agentes morreram (oito em serviço, 39 fora de serviço/de folga e 13 eram aposentados/exonerados) e 74 ficaram feridos (39 em serviço, 32 fora de serviço/de folga e dois eram aposentados/exonerados). Dos 134 agentes de segurança baleados no ano, 53% das vítimas foi atingida quando estavam fora de serviço (71 baleados).

Os policiais militares foram os mais afetados pela violência armada. Dos 134 agentes de segurança, 103 pertenciam à categoria, o que representa 77% dos agentes baleados.

 

Em 2022, 144 agentes de segurança foram baleados, 67 agentes morreram (15 em serviço, 35 fora de serviço/de folga e 17 eram aposentados/exonerados) e 77 ficaram feridos (44 em serviço, 26 fora de serviço/de folga e sete eram aposentados/exonerados).

Trabalhadores informais

19 entregadores/motoboys, 18 mototaxistas, 11 motoristas de aplicativo e 10 vendedores ambulantes foram baleados no Grande Rio em 2023. Em 2022, seis entregadores/motoboys, 13 mototaxistas, 13 motoristas de aplicativo e três vendedores ambulantes foram baleados no Grande Rio.

Chacinas

Houve 47 chacinas na região metropolitana do Rio em 2023 que deixaram 176 pessoas mortas. Entre as chacinas mapeadas no ano, 62% delas (29) foram durante ações ou operações policiais, deixando 117 civis mortos – o que representa 66% dos mortos em chacinas.

Em comparação com 2022, que concentrou 51 chacinas com 225 mortos no total – sendo 41 delas (80%) em operações policiais que deixaram 194 mortos (86%) -, houve queda de 8% nas chacinas e de 22% no número de mortos em chacinas.

Balas perdidas

2023 foi o ano com mais vítimas de balas perdidas dos últimos quatro anos. Foram 131 pessoas atingidas: 42 morreram e 89 ficaram feridas. Em 2022, foram 109 vítimas (26 mortas e 83 feridas); Em 2021, 115 atingidas (22 mortas e 93 feridas); Em 2020, 123 vítimas de balas perdidas (26 mortas e 97 feridas).

Entre as 131 vítimas de balas perdidas mapeadas em 2023, 70 foram atingidas durante ações e operações policiais, o que representa 53% das vítimas: 23 morreram e 47 ficaram feridas.

Vítimas por faixa etária

25 crianças, 45 adolescentes, 1.703 adultos e 46 idosos foram baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2023. Deste número, 10 crianças, 23 adolescentes, 898 adultos e 22 idosos morreram.

Em 2022, oito crianças, 43 adolescentes, 1.873 adultos e 37 idosos foram baleados, dos quais duas crianças, 17 adolescentes, 930 adultos e 20 idosos morreram.

Motivos

Dos 2.953 tiroteios mapeados pelo Instituto Fogo Cruzado em 2023, foi possível identificar a motivação de 1.704 deles (58%).

Os principais motivos dos disparos de arma de fogo na região metropolitana foram: Ação/Operação policial (999); Homicídio/Tentativa de homicídio (393); Roubo/Tentativa de roubo (193); Disputa entre grupos armados (174); e Briga (47).

Disputas entre grupos armados

Considerando toda a série histórica do Instituto Fogo Cruzado, 2023 foi o ano em que as disputas entre grupos armados se intensificaram, com 174 registros. Ao menos 129 pessoas foram baleadas nestes tiroteios Nos anos anteriores os números ficaram da seguinte forma:

  • 2022: 112 tiroteios e 104 baleados em disputas entre grupos armados

  • 2021: 114 tiroteios e 72 baleados em disputas entre grupos armados

  • 2020: 38 tiroteios e 52 baleados em disputas entre grupos armados

  • 2019: 73 tiroteios e 54 baleados em disputas entre grupos armados

  • 2018: 121 tiroteios e 109 baleados em disputas entre grupos armados

  • 2017: 95 tiroteios e 104 baleados em disputas entre grupos armados

Especiais

Rotas e modais de transporte afetados

Houve 286 tiroteios/disparos de arma de fogo próximos de corredores de transportes da Região Metropolitana do Rio (em um raio de até 100 metros), segundo dados do Relatório Anual do Instituto Fogo Cruzado. Número representa uma queda de 33% em relação a 2022, que concentrou 427 registros próximos a vias e rotas de transporte.

As rodovias foram as mais afetadas, concentrando 66% (183) dos tiroteios/disparos de arma de fogo. Em seguida, vieram os BRTs (81), trens (68), metrô (20) – somente a parte não subterrânea da Linha 2, entre a Cidade Nova e a Pavuna –, e VLT (3).

Unidades de saúde

Dos 2.953 tiroteios mapeados em 2023 na região metropolitana do Rio, 28% deles (839 registros) ocorreram em um raio de 300 metros de unidade de saúde. Houve em média dois tiroteios por dia próximos a unidades de saúde do Grande Rio. Dos tiroteios mapeados no entorno das unidades de saúde, 268 ocorreram durante ações e operações policiais.

Das 4.190 unidades de saúde presentes na região metropolitana do Rio, 1.527 (36%) delas foram afetadas por tiroteios no seu entorno.

Unidades de ensino

Em 2023, dos 2.953 tiroteios ocorridos na região metropolitana do Rio de Janeiro, 939 deles (32%) ocorreram em um raio de 300 metros de escolas e creches públicas e privadas dos 21 municípios que compõem a região metropolitana do Rio. Para este levantamento, foram considerados somente os tiroteios ocorridos em dias letivos dentro do horário escolar (fevereiro até dezembro, entre 6 horas e 22 horas de segunda a sexta-feira). Houve em média cinco tiroteios por dia letivo no entorno de unidades de ensino. Entre eles, 404 se deram durante ações ou operações policiais.

Entre as 7.386 escolas e creches públicas e privadas nos 21 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro, 1.263 delas (17%) foram afetadas pelos tiroteios.

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 50 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.

 

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

Foto de Capa: Felipe Jiménez

Fonte: Site da Baixada

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