Nove empresas de ônibus correm risco de fechar
21 de abril de 2017

Dívidas trabalhistas atingem viações que são responsáveis por 155 linhas na cidade do Rio

A paralisação na viação Vigário Geral (VG) por atrasos salariais, que afetou o serviço em oito linhas de ônibus na manhã de ontem, sinaliza a mais grave crise que o setor de transporte já enfrentou no Rio. Afundadas em dívidas trabalhistas, essa e outras oito empresas correm sérios riscos de fechar.

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores do município (Sintraturb) ajuizou ações, no início deste mês, para cobrar salários atrasados e outras obrigações a nove das 37 empresas que prestam o serviço na cidade.

As ações movidas na Justiça do Trabalho, no dia 5, incluem a Pégaso, Santa Maria, Litoral Rio, América, Madureira Candelária, São Silvestre, Vila Isabel e Estrela Azul, além da VG. Essas empresas são responsáveis por 155 linhas e serviços da cidade. Elas empregam cinco mil trabalhadores. O presidente do sindicato, Sebastião José, alertou que as paralisações podem se tornar frequentes nos próximos dias se os direitos não forem regularizados.

“Tem empresas que estão atrasando salários há dois meses, colocam pessoas de férias e não pagam. A Justiça já deu prazo para algumas dessas empresas comprovarem a regularidade dos pagamentos”, afirmou o sindicalista.

Só a VG transporta 51.500 passageiros por dia e a maioria de suas linhas, como a 497 e 486, liga as zonas Norte e Sul. Passageiros foram surpreendidos pela paralisação ontem. “Pego a linha de Bonsucesso para Botafogo. Esperei 35 minutos e decidi pegar o trem e metrô. Eu apoio a greve. O problema é que não há comunicação”, reclamou a maquiadora Ninna Alexandre, 35, que chegou 45 minutos atrasada ao trabalho.

Segundo o Sintraturb, os mais de 550 funcionários aderiram à paralisação na VG, que começou à meia-noite e foi até as 10h. O sindicato informou que os profissionais voltaram a trabalhar após a promessa de pagamento ontem, da folha de fevereiro aos cobradores e regularização dos benefícios até quarta. A Rio Ônibus, associação que representa os consórcios, negocia com o sindicato os salários referentes a março. 

‘Aumento da passagem, só com ônibus refrigerados’

O Rio Ônibus ressaltou que a crise econômica, agravada pela falta de reajuste na passagem este ano, impacta o setor com a redução de passageiros, acentuada pela alta do desemprego.A empresa afirmou, por nota, que o não cumprimento do contrato de concessão, de 2010, tem piorado a situação, “já que não houve a reposição de custos assumidos ao longo de 2016”.

“O reajuste da tarifa deveria ter ocorrido na primeira semana de 2017. Na época, o Rio Ônibus alertou que a ausência de reajuste teria como consequência o agravamento da crise financeira do setor, que já atingia pelo menos 12 empresas”, destacou.Nos últimos dois anos, seis empresas fecharam, levando à demissão de 3 mil rodoviários.

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, os consórcios têm obrigação contratual de manter o serviço de forma regular, adequado e contínuo, com frota reservada para atuar em situações de paralisações, sob pena de receber sanções e de sofrer intervenção do município.

O secretário Fernando Mac Dowell mantém a promessa de não aumentar a passagem. “Estamos trabalhando para a população. Ninguém sai perdendo com a manutenção da tarifa dos ônibus, ninguém está quebrando e o usuário não tem prejuízo. A demanda cai justamente porque o preço aumenta, e isso ocorre em qualquer lugar”, explicou Mac Dowell.

Após reunião na Pavuna, o prefeito Marcelo Crivella reafirmou que a tarifa não vai aumentar enquanto não houver novo acordo para garantir a refrigeração dos ônibus: “A população está triste porque só metade dos ônibus tem ar-condicionado, mas está alegre porque o prefeito não deu aumento”.

Fonte: O DIA

Colaborou o estagiário Rafael Nascimento