Aterro em Seropédica, no RJ, é um crime ambiental”, diz pesquisadora
14 de março de 2016

Vazamento de chorume evidencia riscos de contaminação ao Aquífero Piranema, um dos maiores do estado fluminense

A polêmica do aterro sanitário na cidade de Seropédica, na Baixada Fluminense (RJ), voltou à tona com um acontecimento nada agradável. Cerca de 50 mil litros de chorume vazaram do Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) Santa Rosa, nome do aterro, e autoridades suspeitam que o líquido do lixo tenha contaminado o Aquífero Piranema, um dos maiores do estado.

A preocupação também é identificar o impacto que o vazamento pode ter provocado aos córregos e valões da região.

Segundo a empresa Ciclus Ambiental, que administra o aterro, o vazamento ocorreu depois da forte chuva que caiu no município no dia 21 de fevereiro. O temporal teria provocado queda de energia e causado paralisação no sistema. Para piorar a situação, um gerador não estava funcionando, o que resultou no transbordamento de uma das elevatórias de armazenamento.

Aterro oferece riscos

O aterro foi construído em uma área de Reserva Hídrica da Região Metropolitana do Estado, para receber e tratar o lixo de Seropédica, Itaguaí e Rio de Janeiro. Antes, esses resíduos eram enviados ao Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, que foi fechado em 2011.

Para o doutor em Planejamento Energético da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Cícero Pimenteira, a construção do aterro sanitário em Seropédica é um equívoco e nenhuma medida preventiva é capaz de eliminar os riscos de contaminação em sua totalidade. “É como colocar uma lixeira em cima de um filtro”, compara.

A professora de Arquitetura e Urbanismo Denise de Alcântara, também da UFRRJ, segue na mesma linha. “A instalação do aterro sanitário sobre o Aquífero Piranema foi uma escolha, ambiental e socialmente, incorreta e infeliz. Os riscos de contaminação são inúmeros, se considerarmos que o aquífero poderia ser uma fonte de abastecimento de água para a região metropolitana, como hoje é o papel do Rio Guandu”, diz a professora. Segundo ela, a localização do aterro “foi imposta de cima para baixo”, sem participação social.

   
    Alunos protestaram contra aterro sanitário | Foto: ICHS em Foco/UFRRJ

Interesse de Paes

O projeto nasceu por interesse do prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ). O objetivo foi fechar o Aterro de Gramacho, em Caxias, para, segundo o prefeito, dar fim ao “crime ambiental” que ocorria no local. O lixo enviado para lá, portanto, tomou novo destino: Seropédica.

Porém, os riscos ambientais só mudaram de lugar, segundo a professora Denise de Alcântara. “Particularmente, considero a instalação do CTR em Seropédica um crime ambiental”.

E não faltou quem fosse contra o empreendimento na época da construção. Já em 2009, o Comitê Guandu, órgão participante da gestão das águas das Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da Guarda e do Guandu-Mirim, determinou que fosse reavaliado o estudo de localização do aterro, já que ele seria construído em área de reserva hídrica.

A própria prefeitura de Seropédica diz ter feito oposição ao projeto. Técnicos e estudantes da UFRRJ e grande parte da população também se manifestaram desfavoráveis. No entanto, segundo a Prefeitura, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) – responsável pela fiscalização – contrariou a mobilização e aprovou as licenças necessárias para que o aterro fosse construído.

Questionado, o Inea declarou ter multado a empresa Ciclus Ambiental em R$ 6,6 milhões pelo vazamento do chorume. Além disso, o Instituto afirma que supervisionou a retirada do chorume e do solo superficial do valão atingido pelo vazamento.

O Brasil de Fato também procurou a empresa Ciclus Ambiental, contudo, ela não respondeu até o fechamento desta matéria.

Por Victor Ohana, De Seropédica (RJ)

Aterro em Seropédica

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