Dengue no Rio: capital registrou 10 mil casos em janeiro
2 de fevereiro de 2024

“Há anos não temos uma epidemia de grande proporção no Estado do Rio, mas esse crescimento tão forte no início do ano é atípico”, diz a secretária estadual de Saúde

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, apresentam, nesta sexta-feira, o cenário epidemiológico da dengue na cidade. Os dois falarão ainda sobre as ações da prefeitura para combater a doença e o atendimento à população.

O Estado do Rio vive atualmente uma explosão de casos de dengue. Na capital, foram registrados em janeiro 10.156 casos — quase a metade de todo o ano passado e mais que o dobro de 2022 inteiro. A maiores taxas de incidência estão na Zona Oeste, sobretudo na região de Campo Grande e Santíssimo.

Possíveis criadouros

Em meio a esse cenário, possíveis criadouros do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, se espalham pelo Rio. Especialistas alertam que, com este calor, qualquer recipiente com água parada pode se tornar uma ameaça. Só em janeiro, foram registrados quase 20 mil diagnósticos prováveis e duas mortes. As vítimas foram uma mulher de 98 anos em Itatiaia, no Sul Fluminense, e um homem de 33 em Mangaratiba, na Costa Verde.

“Há anos não temos uma epidemia de grande proporção no Estado do Rio, mas esse crescimento tão forte no início do ano é atípico e preocupante. Os números estão altos e ainda continuam subindo rapidamente. Historicamente, os casos costumam aumentar no fim do primeiro trimestre e caem a partir de maio, junho”, diz a secretária estadual de Saúde, Claudia Mello.

Casos de dengue mais que dobram no início de 2024; vacinação contra doença começa em fevereiro

O número de infectados nas últimas semanas deve ser ainda maior por causa do atraso das notificações. Comparado a estados vizinhos, o Rio tem uma incidência menor de casos (em relação a cada cem mil habitantes) que Minas Gerais e Espírito Santo. Mas, como o mosquito não respeita fronteiras, a velocidade do crescimento no interior do estado preocupa. Cambuci, no Noroeste Fluminense, e Itatiaia, no Sul Fluminense, registraram as mais altas taxas.

O avanço da doença, no entanto, ainda não desencadeou uma reação contundente para tentar barrar a proliferação do mosquito. Nos últimos dias, O GLOBO percorreu ruas da capital e de São Gonçalo — segundo município mais populoso do estado —, e não foi difícil flagrar possíveis criadouros de Aedes. Na Zona Oeste, são comuns pontos de descarte irregular de lixo e pneus com acúmulo de água — ambiente propício para o ciclo do inseto.

Viveiros de mosquitos

Próximo ao Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Poliana Okimoto, na Avenida Cesário de Melo, em Santa Cruz, sobre uma pilha de entulho, um pneu estava cheio de água da chuva. Em Cosmos, situação parecida: a poucos metros da Escola Municipal Pedro Mota Lima, na Estrada de Paciência, uma esquina se tornou ponto de descarte. Procurada, a Comlurb informou que irá aos locais hoje para retirar os materiais.

Na Estrada do Camboatá, ao lado do Campo de Instrução do Exército, mais maus exemplos. O aviso de que o local é uma “Área Militar” não impediu o descarte de dezenas de pneus. Nem as cem mudas plantadas ali pela prefeitura evitaram que a área se tornasse um lixão. Com as chuvas desses dias, poças em tampinhas, pneus, latas e outros objetos se proliferaram. A Comlurb divulgou que ontem mesmo limparia a área. Já o Comando Militar do Leste pede a “conscientização da população para que a referida estrada permaneça limpa” e diz fazer “atividades relacionadas à limpeza e às manutenção nas áreas de sua responsabilidade”.

Não é só a população que é descuidada. Na Cidade das Crianças, parque municipal em Santa Cruz, também há pontos com água acumulada. O local, segundo a Secretaria municipal de Saúde, é inspecionado mensalmente e uma equipe será enviada hoje para checar se há focos do mosquito. Na última vistoria, em 9 de janeiro, foram eliminados ou tratados 125 possíveis criadouros do Aedes aegypti, mas não foram encontradas larvas.

Na Ilha do Fundão, na Zona Norte do Rio, uma obra abandonada pode se tornar um risco para quem trabalha e estuda no campus. O esqueleto de um prédio da Universidade Federal do Rio (UFRJ) tem diversas poças de água. A prefeitura universitária afirmou monitorar suas unidades com frequência para evitar a proliferação do mosquito, e que “as recentes e intensas chuvas podem ter trazido consequências que demandam a necessidade de inspeção em novas áreas”.

A fundação de um dos prédios de um conjunto no bairro do Santo Cristo, na Zona Portuária do Rio, se transformou em uma grande piscina. A obra estava abandonada há uma década. Agora, o espaço foi comprado pela construtura Cury, que vai erguer ali mais de 1,7 mil apartamentos. A empresa informou que começou a esvaziar o buraco esta semana, mas que as chuvas atrapalharam o processo. Para evitar a proliferação do Aedes, a empreiteira diz ter colocado 20 quilos de cloro na água.

Esforços de prevenção

O biólogo Vinicius Farjalla explica que, para o controle de possíveis focos do Aedes aegypti ser eficiente, é preciso um cuidado constante, seja o tratamento químico, com o uso de cloro, ou o biológico, por meio do produção de peixes que se alimentam das larvas. Segundo ele, a prevenção deve ser frequente porque o ciclo do mosquito é rápido — de sete a dez dias.

“Sua preferência é por pneus, pratos de planta, garrafas d’água. Mas não quer dizer que o mosquito não possa se desenvolver em piscinas, por exemplo. É preciso de um controle constante e permanente, já que o ciclo de reprodução é curto”, explica.

Em São Gonçalo, também não faltam exemplos de risco de proliferação do inseto. No Ciep Vladimir Herzog, em Paraíso, a equipe do GLOBO flagrou uma piscina com aparência de abandono. No entorno, também havia muita água acumulada. A Secretaria estadual de Educação informou que aplica produtos químicos na piscina, mas que ontem ela foi esvaziada para ser limpa e higienizada.

Peixes contra larvas

Abandonado, o Piscinão de São Gonçalo, em Boa Vista, tem diversos pontos de grande acúmulo de água. Na mesma cidade, no bairro Zé Garoto, o Clube Tamoio, que também está fechado, mantém as piscinas cheias e imundas. O clube é disputado na Justiça, e O GLOBO não conseguiu encontrar os responsáveis. A prefeitura afirmou que monitora os dois espaços e que, quando não localizam predadores naturais da larva do mosquito, “são colocados peixes larvófagos — conhecidos como barrigudinhos — nas piscinas”. Fátima Tojo é vizinha ao clube e se diz preocupada com a quantidade de insetos nos últimos meses:

“Essa rua está com muito mosquito. O clube está completamente abandonado e pode estar com muitos focos”.

Especialistas alertam que o combate ao avanço da doença começa dentro de casa. O Ministério da Saúde recomenda que vasos e pratos de plantas, garrafas e depósitos de água sejam vistoriados semanalmente. Moradora de Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, Amanda Gomes Batista, de 12 anos, está internada com dengue desde terça-feira no Hospital Municipal Salgado Filho. Sua mãe, Márcia Cristina Gomes, conta que a menina está se recuperando e que ficou surpresa com o diagnóstico.

“Depois que descobriram ser dengue, uma equipe da clínica da família foi lá em casa, mas não encontrou foco”, contou.

Fonte: EXAME

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