Cientistas pedem que OMS reconheça transmissão aérea do coronavírus
5 de fevereiro de 2021

Há quase 11 meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava uma pandemia do coronavírus. Desde então, a ciência conseguiu entender muito melhor o comportamento do vírus e como ele se transmite. Mesmo assim, as recomendações gerais de prevenção ainda falham em comunicar um conceito básico: o vírus é aéreo.

Um editorial publicado na respeitada revista científica Nature aponta que as evidências acumuladas até hoje deixam claro que a principal forma de transmissão da Covid-19 é pelo ar, seja inalando gotículas maiores produzidas por ações como falar, seja pelos aerossóis, que são partículas muito menores e que “flutuam” no ar por períodos mais prolongados, tornando-se um risco especialmente em espaços fechados.

No entanto, agências governamentais ainda dão muita ênfase na prevenção pela desinfecção de superfícies. O artigo aponta que esse canal de transmissão é plausível (como encostar em uma maçaneta infectada e levar a mão ao nariz), mas não é predominante. O mais importante é evitar respirar o mesmo ar que uma pessoa infectada.

No entanto, mesmo com o peso das evidências mostrando o risco da transmissão pelo ar, a Organização Mundial da Saúde ainda não dá ao assunto a devida importância, reforçando a transmissão por superfícies contaminadas. “Evite tocar em superfícies, especialmente em locais públicos, porque alguém com Covid-19 pode ter tocado nelas antes. Limpe superfícies regularmente com desinfetantes padrão”, diz o comunicado mais recente sobre prevenção.

O que defendem os cientistas é que esse foco nos fômites (as superfícies contaminadas) tira o foco do real problema e cria confusão entre o público. Empresas e pessoas podem se julgar seguros “seguindo protocolos de desinfecção”, quando o verdadeiro risco está em ficar perto de alguém infectado. Assim, as verdadeiras soluções são ignoradas: máscaras de boa qualidade, tanto para evitar a transmissão quanto para autoproteção, e soluções para melhorar a ventilação em locais fechados, evitando que aerossóis se acumulem no ambiente.

A falta de informação também acaba se transformando em medidas ineficientes de contenção. Como aponta a Nature, está previsto um orçamento de US$ 380 milhões até 2023 para desinfectar o transporte público do estado de Nova York. Quando a agência pediu diretrizes ao governo federal dos Estados Unidos sobre a possibilidade de focar as medidas de prevenção nos aerossóis e ventilação, recebeu a orientação de direcionar esforços para limpeza de superfícies.

E, no fim, isso não se restringe aos Estados Unidos. Quantos restaurantes e bares que mantiveram portas abertas durante a pandemia não limitam seus protocolos de prevenção a garantir uma distância mínima entre as mesas, disponibilizar álcool-gel e limpar as mesas após a saída dos clientes, sem dar a devida consideração para a qualidade do ar que seus consumidores e funcionários estão respirando na área interna?

Por este motivo, os cientistas pedem que a OMS e outras autoridades de saúde atualizem suas orientações de prevenção, dando maior foco em soluções de ventilação e purificação do ar. As pessoas também precisam estar cientes do uso de máscaras e de manter uma distância segura umas das outras.

Fonte: Olhar Digital

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