Cometa verde se aproxima da Terra após 50 mil anos; astrônomas comentam
21 de janeiro de 2023

O que os humanos estavam fazendo há 50 mil anos? Se você respondeu “aprendendo a falar”, acertou! Se pensou “migrando da África para os outros continentes”, também acertou! Mas, aqui, queremos destacar outro evento: nessa época provavelmente alguém avistou o cometa C/2022 E3 (ZTF), que se aproxima novamente do nosso planeta nas próximas semanas.

Mas como sabemos que esse cometa esteve aqui há 50 mil anos? Certamente não foi a partir de nenhuma anotação científica ou qualquer outro tipo de registro daqueles tempos. Ao longo de milênios, os humanos conseguiram chegar ao inimaginável: entender o Universo a ponto de fazer previsões de passagens desses objetos tão intrigantes.

Hoje sabemos que esses belos objetos celestes são pequenas bolas de neve e poeira, de cerca de 20 km de diâmetro, viajando pelo Sistema Solar, geralmente em órbitas periódicas. Cada vez que um cometa se aproxima do Sol, seu material volátil “derrete” um pouco, formando uma cauda brilhante. A cauda só é visível quando está nas redondezas da estrela, cujo vento a “empurra” na direção oposta à do centro da órbita.

Existem cerca de 4.500 cometas com órbitas catalogadas, das quais 10% ocorrem em períodos inferiores a 400 anos. Os cometas são originários de uma nuvem de material conhecida como Nuvem de Oort, em homenagem ao astrônomo holandês Jan Hendrik Oort (1900-1992), que sugeriu a existência de uma nuvem progenitora e que tem mais de 1 bilhão de cometas.

Ilustração do Cinturão de Kuiper e da Nuvem de Oort em relação ao nosso sistema solar. — Foto: NASA

Acredita-se que essa nuvem tenha se formado na mesma época em que o Sistema Solar se formou, e que se manteve estável devido à ação da força da gravidade do Sol e dos planetas gigantes Júpiter e Saturno.

Colisões internas e perturbações gravitacionais devido ao movimento dos planetas e de outras estrelas na vizinhança são suficientes para lançar uma das bolas de neve fora da nuvem para dentro do Sistema Solar.

O cometa parte em direção ao Sol, sendo muitas vezes capturado pelos planetas gigantes. Foi o que aconteceu com o cometa Shoemaker-Levy 9, que colidiu com Júpiter em 1994.

A nuvem de Oort está a uma distância de mais de 1.000 unidades astronômicas (UA), e se estende até 100 mil UA. Para ter ideia, a Terra está a 1 UA (ou 149.597.870,7 km) do Sol; já Plutão, a 39 UA da estrela.

Assim que um cometa é visto pela primeira vez, os astrônomos calculam sua órbita e monitoram sua passagem ao redor do Sol. Apesar da precisão nos cálculos das órbitas, é praticamente impossível prever a quantidade de material que vai escapar do cometa em cada passagem. Mas sabemos que o material perdido permanece na órbita do cometa, preso pela força gravitacional solar.

Cada vez que a Terra cruza a órbita de um cometa, uma chuva de meteoros, ou seja, de partículas cometárias, penetra a atmosfera terrestre. A maior parte dessas partículas nem chega a tocar o solo terrestre, desgastando-se no caminho.

Em busca de respostas

Os cometas contêm informações preciosas sobre a formação do Sistema Solar, a origem da Terra e quem sabe até da vida por aqui. Como não têm atividade vulcânica, oceanos em mudanças ou atmosfera, eles tendem a não sofrer as grandes transformações pelas quais os planetas passam. Além disso, seus núcleos, protegidos por uma camada de gelo espessa, podem conter matéria primordial intacta por vários bilhões de anos.

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É por isso que os cometas já foram alvos de muitas missões espaciais. Moléculas de etano e metano foram encontradas no Tempel 1, o qual a Nasa bombardeou com um projétil em 2005. Esses gases têm entre seus constituintes o carbono, elemento fundamental na formação da vida na Terra (o DNA, por exemplo, contém dezenas de bilhões de átomos de carbono).

Os primeiros organismos vivos do planeta podem ter chegado aqui trazidos por um cometa que se chocou com a Terra, como acredita uma corrente de cientistas. Há quem diga também que os oceanos, ou pelo menos 10% deles, sejam resultados da colisão de cometas com a Terra primordial.

O maioral

O cometa mais famoso de todos os tempos é o Halley. Ele ganhou esse nome porque o astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742) deduziu que havia um cometa que tinha sido observado várias vezes. Ele propôs, então, que se tratava do mesmo objeto passando pela Terra a cada 76 anos. O cientista calculou esse período e fez a previsão de quando ele passaria novamente, mas morreu antes de acontecer, em 1758.

Cometa 1P/Halley em 8 de março de 1986. — Foto: NASA/W. Liller - NSSDC's Photo Gallery (NASA)

Cometa 1P/Halley em 8 de março de 1986. — Foto: NASA/W. Liller – NSSDC’s Photo Gallery (NASA)

O cometa Halley amedrontou muitas pessoas quando passou pertinho e deu um show em maio de 1910. Foram dias e noites olhando para o céu e vendo o objeto se aproximar. Muitos achavam que iriam morrer asfixiados pelos gases do cometa, outros que a colisão destruiria a Terra. Era tanta fake news que pessoas cometeram suicídio, outras venderam seus bens, compraram máscaras e muitas entraram em pânico.

Claro que nada aconteceu e o Halley seguiu seu longo caminho ao redor do Sol. Ele voltou em 1986 — dessa vez, porém, o espetáculo foi mais modesto, decepcionando muita gente.

 

Quando os astrônomos detectaram a presença do cometa, ele já estava próximo de Júpiter. Era notavelmente mais verde do que os objetos ao redor e se movia em direção à Terra. No último dia 12 de janeiro, ele se aproximou do Sol (166 milhões de km) e, no dia 2 de fevereiro, chegará perto da Terra. Mas ainda longe, a uns 42 milhões de km de distância do nosso planeta, sem qualquer perigo para nós. Daqui a 50 mil anos, os humanos poderão vê-lo novamente.

Recomendamos o uso de binóculos para observar cometas, pois geralmente não são brilhantes e uma magnificação, mesmo que baixa, auxilia na observação. Ao observar, lembre-se que, olhando para cima, podemos entender muito sobre o que está acontecendo aqui embaixo. Os cometas trazem o segredo das nossas origens e são mensageiros do Sistema Solar primordial.

Fonte: Revista Galileu

https://revistagalileu.globo.com/colunistas/mulheres-das-estrelas/coluna/2023/01/cometa-verde-se-aproxima-da-terra-apos-50-mil-anos-astronomas-comentam.ghtml

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