Cauda de asteroide estranho não é feita de poeira, revela observatório
26 de abril de 2023

Depois de 40 anos de pesquisas sobre o corpo celeste, pesquisadores da Nasa e da ESA finalmente chegaram a uma conclusão sobre a natureza do rastro cósmico

A sequência de duas horas de imagens do SOHO mostra Phaethon (circulado) movendo-se em relação às estrelas de fundo Divulgação/ESA/NASA/USNRL/Karl Battams

asteroide 3200 Phaethon, cujo comportamento já era considerado anormal, acaba de ficar um pouco mais estranho. A nova percepção é o resultado de pesquisas conduzidas pela Nasa, com o apoio da Agência Espacial Europeia (ESA).

Já se sabia que a formação, apesar de ser entendida como um asteroide, agia como um cometa quando sua trajetória de órbita passava pelo ponto mais próximo do Sol (periélio), iluminando-se e formando uma cauda e chuvas de meteoros. Até então, acreditava-se que isso era fruto de poeira escapada pela queimadura da estrela.

No entanto, uma nova pesquisa publicada na revista Planetary Science Journal concluiu que, na verdade, a cauda não é empoeirada, mas, sim, feita de gás sódio. “Nossa análise mostra que a atividade do cometa de Phaethon não pode ser explicada por qualquer tipo de poeira”, afirma Qicheng Zhang, primeiro autor do estudo, em comunicado da Nasa.

Asteroide ou cometa?

Os cometas são formados por uma mistura de gelo e rocha. Dessa forma, criam caudas quando o Sol estimula a evaporação de seu gelo e ocorre expulsão de material de suas superfícies. Quando esses detritos passam pela atmosfera terrestre, os pedaços queimam e geram uma chuva de meteoros. Já os asteroides são apenas rochosos, assim, não evaporam quando há maior incidência solar e não costumam formar caudas.

Depois que os astrônomos descobriram Phaethon em 1983, eles perceberam que a órbita do asteroide correspondia à dos meteoros Geminídeos. Isso o apontava como a fonte da chuva anual de meteoros, embora não fosse um cometa.

Em 2009, o Solar Terrestrial Relations Observatory (Stereo) da Nasa detectou uma cauda curta que se estendia de Phaethon quando o asteroide atingiu seu ponto mais próximo do Sol ao longo de sua órbita de 524 dias. O registro voltou a acontecer em 2012 e 2016, e a aparência do rastro apoiou a ideia de que era poeira escapando da superfície.

Porém, em 2018, outra missão solar capturou parte da trilha de detritos Geminídeos e encontrou uma surpresa. A Parker Solar Probe demonstrou que a trilha continha muito mais material do que Phaethon poderia liberar. Tal observação fez com que a equipe de Zhang se perguntasse se algo mais, além de poeira, estava por trás do comportamento de Phaethon.

A ilustração mostra o asteroide Phaethon sendo aquecido pelo Sol. A superfície do asteroide fica tão quente que o sódio dentro da rocha de Phaethon provavelmente vaporiza e se espalha para o espaço, fazendo com que ele brilhe como um cometa e forme uma cauda — Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech/IPAC

A ilustração mostra o asteroide Phaethon sendo aquecido pelo Sol. A superfície do asteroide fica tão quente que o sódio dentro da rocha de Phaethon provavelmente vaporiza e se espalha para o espaço, fazendo com que ele brilhe como um cometa e forme uma cauda — Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech/IPAC

“Os cometas geralmente brilham intensamente por emissão de sódio quando muito perto do Sol. Então, suspeitamos que o sódio também poderia desempenhar um papel fundamental no brilho de Phaethon”, explica Zhang.

Na esperança de descobrir do que a cauda é realmente feita, Zhang procurou por ela novamente durante o último periélio de Phaethon em 2022. Para isso, usou a espaçonave Solar and Heliospheric Observatory (Soho), que possui filtros de cores que podem detectar sódio e poeira. A equipe também pesquisou imagens de arquivo desde 1997.

Nessas novas observações, a cauda do asteroide apareceu brilhante no filtro que detecta sódio, mas não apareceu no de poeira. Além disso, o formato e a maneira como ela se iluminou quando Phaethon passou pelo Sol corresponde exatamente ao que os cientistas esperariam se fosse feita do mineral alcalino.

“Não apenas temos um resultado que derruba 14 anos de pensamento sobre um objeto bem examinado, mas também o fizemos usando dados de duas espaçonaves heliofísicas – Soho e Stereo –, que não tinham a intenção de estudar fenômenos como esse”, destaca o pesquisador Karl Battams.

Futuro da investigação

Zhang e seus colegas agora questionam se alguns ‘cometas’ descobertos pelo SOHO são realmente cometas. “Muitos desses corpos celestes ao redor do Sol também podem não ser ‘cometas’ no sentido usual de corpo gelado, mas, sim, asteroides rochosos, como Phaethon”, pondera.

Além disso, apesar da natureza da cauda estar respondida, outra questão permanece. Se Phaethon não derrama muita poeira, como o asteroide fornece o material para a chuva de meteoros Geminídeos todo mês de dezembro?

SOHO fotografou o asteroide perto do Sol em maio de 2022. À esquerda, o filtro é sensível ao sódio e mostra o corpo com uma nuvem circundante e pequena cauda. À direita, o filtro azul, sensível à poeira, não mostra sinais, indicando que o asteroide não está produzindo nenhuma poeira detectável — Foto: Divulgação/ESA/NASA/Qicheng Zhang

SOHO fotografou o asteroide perto do Sol em maio de 2022. À esquerda, o filtro é sensível ao sódio e mostra o corpo com uma nuvem circundante e pequena cauda. À direita, o filtro azul, sensível à poeira, não mostra sinais, indicando que o asteroide não está produzindo nenhuma poeira detectável — Foto: Divulgação/ESA/NASA/Qicheng Zhang

A equipe suspeita que isso seja reflexo de algum tipo de evento disruptivo há alguns milhares de anos que fez com que Phaethon ejetasse o bilhão de toneladas de material – talvez, um pedaço do asteroide se partindo sob as tensões da sua rotação. Mas o que foi, de fato, esse evento permanece um mistério.

Mais respostas podem vir de uma próxima missão da Japan Aerospace Exploration Agency (Jaxa). No final desta década, espera-se que a espaçonave Destiny+ sobrevoe Phaethon, obtendo imagens de sua superfície rochosa e estudando qualquer poeira que possa existir em torno deste enigmático asteroide.

Fonte: Revista Galileu – Espaço

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