O Legado de um Gênio: Morre aos 88 Anos o Escritor Luis Fernando Verissimo

30 de agosto de 2025

Luis Fernando Veríssimo morreu neste sábado (30) – Lindomar Cruz/Agência Brasil

O Brasil se despede de um de seus maiores cronistas. O escritor Luis Fernando Verissimo faleceu neste sábado (30), aos 88 anos. O autor estava internado desde o início do mês no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), tratando um quadro de pneumonia. O criador de personagens inesquecíveis e de crônicas que marcaram gerações deixa a esposa, Lúcia Helena Massa, três filhos e dois netos.

A saúde de Verissimo, que já enfrentava problemas cardíacos, foi fragilizada nos últimos anos. Em 2021, ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, no ano seguinte, precisou receber um marcapasso. O autor também convivia com o Mal de Parkinson.

Uma Trajetória Profissional Multifacetada

A obra de Verissimo vai muito além das crônicas que o consagraram. Ao longo de sua rica trajetória profissional, o escritor gaúcho atuou como cartunista, tradutor, roteirista, publicitário, revisor, dramaturgo e romancista. Sua escrita, sempre precisa e perspicaz, era marcada por um humor inteligente, assertividade e crítica social.

Filho do também renomado escritor Érico Verissimo, Luis Fernando publicou mais de 80 títulos. Entre os mais famosos estão As Mentiras que os Homens Contam, O Popular: Crônicas ou Coisa Parecida, e a série do detetive particular Ed Mort. Foi, no entanto, com suas crônicas e contos que ele se tornou um dos autores mais populares do país, com destaque para O Analista de Bagé, que teve sua primeira edição esgotada em apenas uma semana, em 1981.

Luis Fernando Verissimo integrou bandas de jazz em Porto Alegre – Reprodução

O Humor e a Precisão das Palavras

A timidez de Verissimo era uma característica peculiar que contrastava com a força de sua escrita. Ele sempre se via mais como alguém que “fazia humor” do que como um “humorista”. Em uma de suas reflexões, ele explicou a distinção: “O humorista é o cara que tem uma visão humorística das coisas. O humor é sua maneira de ver e de ser”.

Essa abordagem se mostrou útil durante o período da ditadura militar, quando, para driblar a censura, ele guardava uma crônica de reserva. “Os censores pareciam achar o cartum algo infantil; então, era mais fácil fazer passar um cartum político que um texto político”, ele chegou a comentar. Sua habilidade em escrever o necessário, com poucas palavras, mas com um impacto enorme, era uma de suas maiores qualidades. Elias Thomé Saliba, professor da USP, o definiu como o “cronista mais popular do Brasil”, aquele que “diz o que o leitor quer falar, mas não consegue”.

Paixões Além da Escrita: Música e Futebol

Verissimo não era apenas um mestre das palavras, mas também um apaixonado pela música, especialmente o jazz. A paixão, herdada de sua família, o levou a aprender a tocar saxofone durante o período em que morou nos Estados Unidos. A música, que o acompanhou por toda a vida, transparecia em muitas de suas crônicas, servindo de tema, metáfora e inspiração.

Outra grande paixão era o futebol. Torcedor fervoroso do Sport Club Internacional, de Porto Alegre, ele via o esporte não só como uma disputa, mas como um espaço de emoção e identidade. Sua paixão pelo “Colorado” era recorrente em seus textos, o que o aproximava ainda mais do público gaúcho, que se reconhecia no lirismo de sua torcida.

Para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra do autor, o documentário Verissimo, lançado em 2024, acompanha 15 dias de seu cotidiano, oferecendo um retrato mais intimista de sua figura. O filme está disponível no serviço de streaming Mubi.