Falta segurança para os seguranças nas estradas
4 de junho de 2017

Alvo de ataques frequentes e violentos, categoria pede mudanças na legislação que regulamenta a profissão. Segundo dirigente de confederação, aproximadamente 60 mil vigilantes saíram do mercado por medo de morrer em apenas um ano

Todos os moradores do Rio estão vulneráveis à violência cotidiana. Porém, uma categoria profissional tem mais pesadelos. Alvos constantes dos ataques de bandos fortemente armados, centenas de milhares de trabalhadores da segurança privada reclamam por mudanças na legislação para sua própria segurança.

“Virou uma carnificina, onde os vigilantes enfrentam uma verdadeira guerra desigual”, protesta o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Segurança Privada (Contrasp), João Soares.

Segundo ele, no último ano, cerca de 60 mil vigilantes abandonaram a carreira por iniciativa própria ou atendendo os apelos de suas famílias. Os riscos da profissão, especialmente a falta de estrutura para enfrentar os ladrões de carga , têm levado muita gente a procurar outra profissão. “Infelizmente é desumana a realidade da categoria. Os vigilantes protegem vidas e patrimônios de terceiros, mas saem para o serviço sem saber se voltarão para a casa”, lamenta Soares.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Vigilantes do Rio (SindVig), Leandro Siqueira, em 2017, oito vigilantes que trabalhavam na escolta armada foram mortos durante assaltos, no estado. “Isso pelo que o sindicato sabe.

Às vezes, as empresas não nos comunicam ou o vigilante é baleado e morre depois no hospital, sem ninguém ser avisado”, afirma Siqueira. Somente na quarta-feira passada, dois deles foram executados quando passavam pelo Arco Metropolitano, escoltando uma carga de cigarros.

Uma das vítimas, o vigilante Jones de Souza da Silva, de 28 anos, já havia escapado de um ataque três meses antes, no mesmo ponto. Na ocasião, seu colega de trabalho, Yago Aguiar Sant’Anna, de 24 anos, foi assassinado pelos ladrões. “Meu marido era o segurança que estava com o Jones naquele ataque. Imagina como está a minha cabeça. Ainda não digeri essa tragédia”, disse a esposa de Yago, Débora Costa.

Sem blindagem

O diretor do SindVig aponta o dedo para os congressistas, que aprovaram um novo estatuto da segurança privada, mas não incluíram no texto as principais reivindicações dos trabalhadores.

“É uma covardia usar carro de baixa potência e sem nenhum tipo de blindagem na escolta armada. Precisamos, também, de armamento mais adequado. O vigilante usa revólver 38 e carabina 12. O bandido vem de fuzil. É desproporcional. Não tem como enfrentar”, protesta Siqueira. Para ele, as empresas pensam apenas em conter custos. “Não tem preocupação nenhuma com a vida do trabalhador. Por isso, muitos estão pedindo demissão. Estão com medo de exercer a profissão”.

‘Há que se endurecer os alvos e torná-los menos fáceis para os bandidos!’

Para o diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança na região Sudeste(ABSEG), Vinicius Cavalcante, a legislação que rege a profissão do vigilante, que é de 1983, tem que se adequar à realidade atual. “Nós já deveríamos ter veículos de escolta melhor protegidos, assim como já se deveria estar permitindo o emprego de melhores armamentos pelos vigilantes”

Segundo ele, o empresário, normalmente, não quer gastar com segurança. “Há que se endurecer os alvos e torná-los menos fáceis para os bandidos! A rigor, você tem sempre que avaliar o risco pesando o tipo de carga, a conjuntura (que pode valorizá-la mais ou menos para os bandidos), o local por onde ela deverá circular e a crônica delituosa nessa área.

Tudo isso deveria influenciar o tipo de escolta, a quantidade de vigilantes e de veículos. Mas, na prática isso não acontece na enorme maioria dos casos. “Acho que a legislação não evolui, até para não atrapalhar o ‘bico’ de policiais que eventualmente atuam clandestinamente nas escoltas de maior risco, empregando pistolas calibre .40 e fuzis das suas dotações policiais devidamente ‘emprestados’”, acredita Cavalcante.

O diretor do Sindicato dos Vigilantes do Rio, Leandro Siqueira, afirma que as grandes empresas de escolta armada estão recusando contratos para transportar cigarros e remédios, as mercadorias mais visadas pelas quadrilhas. “Mas, as empresas menores, de fundo de quintal, aceitam. “A vida do trabalhador que se dane. Tem peça de reposição”, reclama.

A vulnerabilidade da segurança particular, acaba contribuindo para o aumento de armas nas mãos de bandidos. Segundo levantamento da Coordenação Geral de Controle de Segurança Privada, da Polícia Federal, entre dezembro de 2015 e outubro de 2016, 4.077 armamentos foram roubados ou furtados das empresas. Foram 3.830 revólveres .38, 181 espingarda calibre 12, 59 pistolas 380, cinco carabinas 38, um revólver .32 e um rifle 38.

Na sexta-feira, uma quadrilha assaltou a transportadora de valores Brinks, localizada em Juiz de Fora, Zona da Mata de Minas Gerais. Para cometer o crime, os bandidos sequestraram e mantiveram como reféns as famílias de três funcionários da empresa, dentre as quais a de um gerente.

Segundo as testemunhas, os bandidos entraram na empresa, escondidos no porta-malas do carro do gerente. O montante do roubo não foi revelado. Os funcionários só acionaram a polícia depois que tiveram certeza de que os parentes estavam a salvo”.

Fonte. O DIA