Ferros-velhos do Centro do Rio são a mola motora dos roubos e furtos de peças metálicas
14 de maio de 2022

Diversos ferros-velhos funcionam em imóveis invadidos e não tem qualquer tipo de formalidade na região central. São “estabelecimentos” de fundo de quintal e são tão ou mais perigosos que os indivíduos que furtam essas peças todos os dias.

Como sabemos e publicamos aqui, o governador Cláudio Castro regulamentou e publicou no Diário Oficial do Executivo uma Lei. A 9.169/21, que criava “medidas administrativas” de prevenção e combate ao roubo, furto e receptação de peças metálicas no Rio. É também sabido que a exploração da miséria e a receptação são as molas motoras do mercado de ferros-velhos na cidade. Trocando em miúdos: o que é roubado no seu prédio, na sua casa, na praça, na rua, onde quer que seja, é vendido pelos criminosos a estes “respeitáveis estabelecimentos”, que funcionam em endereços fixos e sabidos por todos. Essa lei serviu efetivamente para que?

O ridículo caso do ferro velho que funciona ilegalmente, guardado por Policiais Civis, em um imóvel de propriedade do Governo Estadual de frente para a sede da Gerência e Subprefeitura do Centro é emblemático. Fechado pela prefeitura numa operação que teve a presença do subprefeito e do Secretário de Planejamento Urbano Washington Fajardo, voltou a funcionar 4 dias depois, como se no Rio não houvesse lei. Demos o assunto aqui no DIÁRIO. É por estas e outras que agora roubaram os lindos brasões em ferro fundido do Theatro Municipal. E vão roubar muito mais.

Em alguns casos, como em Copacabana, os ferros-velhos são itinerantes. Não se engane, todo mundo sabe. A kombi que passa todos os dias impunemente pelo bairro gritando aos berros “COMPRO COBRE, COMPRO FERRO, COMPRO ALUMÍNIO” não está sozinha. Caminhões ficam estacionados em local estratégico com o intuito único de receptar o que é roubado pelos moradores de rua, viciados, e criminosos de segunda linha, pagando por quilo. Um ficou tradicional; azul, fica algumas horas por semana parado na frente da saída de serviço do Hotel Pestana Copacabana, recebendo toda espécie de produto de furto. Outro fica parado nas imediações da rua Duvivier com a rua Carvalho de Mendonça. Mas tudo bem, deve ser difícil para as autoridades controlarem esses ferros-velhos itinerantes.

No mundo de chantilly em que parecem viver nossas autoridades, o assunto vai ser resolvido exigindo destes estabelecimentos que, em área urbana, vivem de comprar o que os outros roubam (ou o que eles mesmos encomendam?), emitam notas fiscais e mantenham registros de suas operações. Como se esses metais não fossem todos derretidos pelos bandidos, como se a maioria destes estabelecimentos tivessem alvará de localização ou mesmo algum tipo de formalização na sua existência.

Só que não funciona assim. Diversos ferros velhos funcionam em imóveis invadidos, e não tem qualquer tipo de formalidade. Outros compram e vendem estátuas de praças, pedaços de monumentos, derretidos às vezes nos imóveis ao lado. Pagam em espécie… Sempre que você observar uma mancha preta de incêndio numa parede de um imóvel abandonado….tcharam! Ali foi derretido algum metal roubado por criminosos – muitas vezes moradores de rua, para (ou sob encomenda de?) algum ferro-velho. Eles instrumentalizam os miseráveis que vagam, como zumbis, pelas ruas do Rio, a roubar hidrômetros, corrimãos, peças metálicas de monumentos…

Na área do Centro, ninguém faz absolutamente nada, mas são conhecidos os endereços de ferros-velhos que funcionam de forma totalmente mambembe e sem qualquer tipo de fiscalização. Todo mundo sabe. Nosso secretário de ordem pública Brenno Carnevale, por exemplo, é um competente delegado de polícia. Será que não tem um plano para acabar com a depredação de nossas praças, monumentos, edifícios públicos e mesmo dos bens privados?

Mas, como a polícia e as autoridades não parecem estar conseguindo saber para onde vai todo o material que é roubado e furtado na região do Centro, resolvemos dar uma ajudinha.

1 – Rua João Alvares, 20

Este ferro-velho funciona num imenso sobrado amarelo, que já desabou internamente há mais de 10 anos. As peças vão chegando durante o dia. Por fora, lemos “LAVA JATO”. Não tem muita cara de ter licença não. Moradores do entorno disseram que se trata de uma invasão.

2 – Rua do Livramento, 73

Este “estacionamento garagem”, se localiza na Rua do Livramento, quase na esquina da Rua Sacadura Cabral. Na verdade, funciona como mais um ferro-velho. A Rua do Livramento se encontra totalmente abandonada, com moradores de rua circulando, muitas vezes como zumbis, enquanto pessoas que moram nos mais de 10 imóveis invadidos e depredados sequenciais colocam sofás e camas nas ruas. A rua teve diversos imóveis adquiridos pela prefeitura para o projeto Novas Alternativas (um projeto de habitação popular sensacional que reaproveitava imóveis históricos como moradias). Como nada foi feito, todos os imóveis foram depredados, destruídos, e estão agora invadidos. Estranharíamos, se apesar do letreiro “estacionamento”, ele tiver alvará de ferro-velho.

3 – Rua do Livramento, 184

Esta porta branca de fórmica esconde mais um….Ferro-velho. Segundo moradores, outro imóvel invadido. Ele fica em frente ao antigo prédio dos Diários Associados, e também em frente a outro….. Ferro-velho, de que tratamos em seguida.

4 – Rua do Livramento 203

No térreo deste prédio bem grande, onde funcionou uma das maiores confecções de moda do Rio, funciona mais um ferro-velho. Segundo vizinhos, o imóvel foi vendido anos atrás a uma empresa de acreditação de hospitais, que acabou não se mudando para o local

5 – Rua Pedro Ernesto, 62

Aqui funcionava um Depósito de Papéis. Agora, é um ferro-velho. Mais um, na região. É comum, segundo moradores – que pediram pra não ter seus nomes revelados – ir-se até este estabelecimento para “recomprar” materiais furtados. Isso. Recomprar. É. Recomprar o que foi furtado. Pois é.

Enquanto estes “estabelecimentos” puderem funcionar impunemente, não haverá um único monumento, uma única estátua, uma única grade ou gradil, bueiro, grelha ou tampa de esgoto seguros. É enxugar gelo.

Os prejuízos causados à cidade são imensos. Trens atrasados, sinais de trânsito apagados, telefones desligados, queda de sinal de internet, insegurança causada por falta de iluminação, destruição de bens culturais… se contabilizados, são certamente perdas na casa das centenas de milhões de reais todos os anos.

A direita reclama da desordem, do furto, do roubo, da destruição de patrimônio. A esquerda reclama da exploração dos miseráveis, da vida análoga a de escravos que tantas pessoas têm nas ruas do Rio de Janeiro. Mas ninguém toma atitude contra os ferros-velhos que receptam tudo que é furtado, e que exploram de forma absolutamente desumana o nosso povo mais pobre e mais necessitado. Esperar que este tipo de gente vá manter “livros” e “emitir nota”, é no mínimo infantil. É esquecer que tantos deles, em área urbana, são negócios de fundo de quintal, funcionando irregularmente e no esteio da desordem e da decadência que se instalaram na nossa cidade.

Fonte: Diário do Rio

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