Surfista do Rio fica mais perto de virar santo
1 de maio de 2017

Fonte: http://extra.globo.com/noticias/rio/surfista-do-rio-fica-mais-perto-de-virar-santo-21277769.html

Documento para a canonização de Guido Schäffer será enviado ao Vaticano Foto: Reprodução

O tempo estava chuvoso e a pista, molhada quando o padre Maico Goulart dos Anjos, de 32 anos, perdeu a direção do carro que conduzia e caiu de uma ribanceira de cem metros de altura, na BR-101, em Angra dos Reis, no dia 10 de agosto do ano passado. No Hospital de Praia Brava, constatou-se que seu crânio havia sido atingido e a situação era grave. Em coma induzido, o sacerdote foi transferido para uma unidade particular em Volta Redonda, onde enfermeiras colocaram em seu peito uma estampa com a imagem de Guido Schäffer. Dias depois, ele acordou do coma cantando. Estava curado.

Esse é um dos inúmeros testemunhos de milagres atribuídos ao jovem carioca, médico e surfista, candidato a santo. Amanhã, quando completam-se oito anos da morte de Guido, que sofreu um acidente quando pegava onda, aos 34 anos, haverá uma celebração no Posto 11 da Praia do Recreio, com direito a bênção das pranchas pelas mãos de Dom Orani, arcebispo do Rio. A cerimônia coincide também com a reta final da fase do processo de canonização de Guido a cargo da Cúria do Rio. O documento, com cerca de 20 mil páginas, já está pronto e passará apenas por uma revisão antes de ser enviado ao Vaticano, em outubro.

Mãe do santo conta que Guido dava o próprio sapato Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

— No dia 8 de outubro estaremos com tudo finalizado, inclusive com tradução. Dom Orani vai lacrar toda a documentação e enviaremos para Roma, onde passará para a próxima etapa do processo — diz Dom Roberto Lopes, delegado da Congregação para a Causa dos Santos no Rio.

O processo de canonização tem quatro etapas. Primeiro, cinco anos após a morte, o candidato torna-se Servo de Deus. Depois, seu processo é submetido a um tribunal eclesiástico, que investiga a vida do postulante, para considerá-lo Venerável. Após um milagre ser comprovado, mediante minuciosa análise, torna-se Beato. Confirmado o segundo milagre, o processo é levado ao Papa, que o torna Santo.

Na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, onde estão os restos mortais de Guido, fieis já preencheram 15 livros com relatos de milagres.

— Todos os dias o local está cheio de fiéis que vão agradecer — conta Jorge Luiz Neves Pereira da Silva, o padre Jorjão: — Guido continua vivo e transformando a vida de tantas outras pessoas oito anos depois de sua páscoa. Era um jovem normal, que amava o surfe e a medicina, e mostrou que a santidade é possível no mundo em que vivemos.

Memorial será montado com relíquias do jovem

Antes mesmo de Guido ser santificado, um sacerdote resolveu propor como o futuro santo poderia ser retratado em imagens: um jovem de calça jeans, com uma prancha na mão e uma Bíblia na outra. A imagem repousa sobre um criado-mudo na casa da mãe, Maria Nazareth Schäffer, de 68 anos, na Barra da Tijuca. Ali também estão guardadas relíquias do rapaz, como os instrumentos que usava em consultas médicas, a prancha de surfe que usava no dia em que morreu.

Os objetos pessoais do jovem serão reunidos em um memorial, que será montado na Santa Casa de Misericórdia, onde Guido fez residência médica. Entre livros, santos e roupas, chama a atenção a batina com que o seminarista foi sepultado. A exumação do corpo foi feita quase sete anos depois de sua morte e as vestes ficaram bem preservadas. A batina foi lavada e cuidadosamente colocada em um quadro de acrílico.

Fiel escudeira das relíquias, Nazareth cuida de cada detalhe com afeto e dedicação e comenta bem-humorada sobre a iminente responsabilidade de ser mãe de um santo.

Mãe ainda guarda as vestes com que o padre foi sepultado Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

— A gente tem que se comportar. Se fico brava, tenho que lembrar que não posso — diverte-se ela, que completa: — Para mim é uma grande alegria ver suas virtudes reconhecidas. É um consolo para o coração e uma alegria saber que servirá de exemplo para muitos outros jovens.

‘Chegou em casa descalço porque doou o sapato’

— Um dia, ele chegou em casa descalço e eu perguntei se tinha sido roubado. Ele explicou que havia encontrado um homem na rua com o pé machucado, então fez um curativo e doou o sapato. Também já chegou sem camisa porque deu a alguém, e até uma jaqueta de pelica, comprada em Roma, ele doou. Quando decidiu ser padre, nos avisou que usaria parte da poupança para comprar livros e o resto, doaria aos pobres. Dizia que queria ser livre, como São Francisco de Assis foi — conta a mãe de Guido.

Os santos do Brasil

São Roque González de Santa Cruz

É considerado um dos três “mártires do Rio Grande do Sul”. Nascido no Paraguai, foi um dos primeiros evangelizadores no Sul do Brasil, dedicado a disseminar o catolicismo entre os guaranis. Foi morto em 1628 por indígenas contrários ao seu trabalho, e declarado santo em 1988 pelo Papa João Paulo II durante visita ao Paraguai.

Santo Afonso Rodrigues

Nascido em Zamora, na Espanha, foi um sacerdote jesuíta morto em Caaró, no Sul do Brasil, sendo considerado um dos três “mártires do Rio Grande do Sul”. Membro da Companhia de Jesus, chegou às Américas em 1617 e morreu 11 anos depois, junto com São Roque. Foi canonizado em 1988, pelo Papa João Paulo II.

São João de Castilho

Também nascido na Espanha, é um dos três “mártires do Rio Grande do Sul”. Chegou às Américas em 1616 para catequizar indígenas na região Sul do país e foi morto por índios contrários ao seu trabalho. Foi martirizado por ordem do cacique Nheçu em 17 de novembro de 1628. Em 1988, foi canonizado pelo Papa João Paulo II, junto com os outros dois mártires.

Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus

Mais conhecida como Madre Paulina. De família italiana que veio para o Brasil em 1875, morou em Santa Catarina e São Paulo, com toda a vida dedicada aos serviços religiosos. Foi canonizada em 2002 pelo Papa João Paulo II, sendo considerada a primeira santa brasileira.

Santo Antônio de Sant’Ana Galvão

Mais conhecido como Frei Galvão, é o único santo católico nascido no Brasil, em São Paulo. Não se sabe ao certo o dia em que nasceu e o local exato de batismo, mas supõe-se que tenha sido em Guaratinguetá. Um dos religiosos mais conhecidos do país, é famoso pelos poderes de cura. Foi canonizado em maio de 2007, por Bento XVI.

São José de Anchieta

Nascido na Espanha, foi um jesuíta espanhol e um dos fundadores da cidade de São Paulo. É conhecido como o “Apóstolo do Brasil”, por ter sido um dos pioneiros na introdução do catolicismo no país. Sua vida foi marcada por seu ardor missionário e sua luta para guardar a castidade. Autor da primeira gramática em língua tupi, virou santo em 2014 pelo Papa Francisco.

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