Outbêco: das favelas do Rio de Janeiro para Lisboa, Portugal
2 de maio de 2022

Reportagem do DIÁRIO DO RIO esteve na unidade recém-inaugurada da Praça da Harmonia, no Centro da cidade e conversou sobre o sucesso meteórico da marca carioca

Por Felipe Lucena, Diário do Rio

Daniel Félix, criador do Outbêco na sede da Praça da Harmonia, na Gamboa - Diário do Rio. Foto: Rafa Pereira

Daniel Félix, criador do Outbêco na sede da Praça da Harmonia, na Gamboa – Diário do Rio. Foto: Rafa Pereira

Quase 2 mil empregos diretos, quase 200 lojas abertas. O Outbêco não tem nada de “quase Outback”, como algumas pessoas costumam dizer. O sucesso de vendas, que faz referência à famosa marca norte-americana, está em praticamente toda a cidade do Rio, em outros munícipios do Brasil e, em agosto ou setembro deste ano, vai ter uma franquia inaugurada em Lisboa, Portugal. Uma realidade mais do que consolidada. Prato completo.

Daniel Felix, de 46 anos de idade, criador do Outbêco, conversou com a reportagem do DIÁRIO DO RIO na sede da Praça da Harmonia, centro da cidade, inaugurada há pouco mais de um mês. Ele conta que a ideia veio após ter sido franqueado da Wizard. Daniel chegou a abrir quatro franquias do famoso curso de inglês, mas com mudanças na gestão da marca, acabou quebrando e falindo.

“Eu estava numa convenção de franqueados da Wizard e Outback, isso em 2009. A festa foi em um resort de luxo. Então, um engomadinho que estava lá, sabendo que sou de origem de favela, veio fazer piada: ‘Dani, já imaginou o seu pessoal da favela em um lugar como esse?’. Todo mundo estava meio alto, muita bebida, eu já fui para cima do cara, não gostei da gracinha que ele fez. Ele quis debochar da minha origem, de outras pessoas. Mas enquanto ia para cima dele, pensei que sim, que as pessoas de comunidades devem ter acesso a luxos do tipo, também. Daí veio uma ideia inicial de fazer restaurantes legais nas favelas do Rio”.

Outbêco da Praça da Harmonia, na Gamboa, faz sucesso no Rio de Janeiro. | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Em 2017, Daniel Felix estava totalmente quebrado após seu tempo na Wizard. De todo o dinheiro que ganhou, restou apenas uma Kombi. Foi então que um franqueado do Outback o pediu para buscar ingredientes para a cozinha de uma franquia e deixou Daniel anotar as receitas e preparos da consagrada marca.

“Ele queria me ajudar na minha ideia de fazer um restaurante legal nas favelas. Ele falou para eu ir na cozinha de bondade, não achou que eu iria. Mas fui. Fiquei pouco menos de três anos nessa cozinha não só pegando as receitas e preparos, mas também entendendo todo o funcionamento de máquinas, equipamentos do trabalho em geral”.

Três anos depois, com o projeto já montado, Daniel Felix estava em uma reunião com as pessoas que iniciaram o Outbêco pensando no nome para a marca. Foi então que a frase da música do Gonzaguinha fez todo o sentido: “Eu fico com a pureza das respostas das crianças”. O filho de Daniel quem deu a ideia final: “Não é favela e tem comida igual o Outback? Coloca Outbêco”, disse o garoto que tinha 14 anos à época e ganhou um refrigerante como prêmio pela sacada.

De 2020 para cá, o Outbêco não parou de crescer. E crescer muito. Muito mesmo. A primeira franquia foi na PedreiraPavuna. Cria do Amarelinho, em Acari, Daniel viu seu projeto se espalhar por todo o Rio de Janeiro. “A ideia é ter uma franquia por bairro da cidade. Em alguns bairros tem mais de uma, porque são maiores. A maioria é nas favelas”, frisa.

Outbêco da Praça da Harmonia, na Gamboa, faz sucesso no Rio de Janeiro. | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Os pratos servidos no Outbêco são rigorosamente iguais aos do Outback. Daniel tem cozinhas industriais que entregam a comida pronta para os franqueados. Para ser um franqueado não é caro: “É muito bom, nesse mundo louco onde todo mundo quer ganhar dinheiro sem pensar nos outros, poder dar oportunidades. Então, negociamos franquias por cinco, sete salários mínimos. Porque fica tranquilo da pessoa pagar. Em alguns casos, um pouco mais. A pessoa tem que ter o espaço para a loja, que pode ser pequena, média ou grande, e manter a identidade visual. Depois é só vender, trabalhar. E trabalha muito”. Mas dá resultado. Daniel conta que os primeiros franqueados, em menos de dois anos de trabalho, estão bem de grana. “Já tem gente rica”, afirma o criador da marca.

As lojas que mais vendem não podem ser divulgadas. Contudo, é possível informar que a número 1 está na Zona Oeste da cidade. “Fica lotada, dentro e fora, todo dia”, conta Daniel, que pontua: “Tem franqueado que fatura R$ 25 mil livre, de lucro, por semana”. Nas favelas, as franquias do Outbêco funcionam como verdadeiras baladas, abrindo no início da noite e fechando no outro dia de manhã.

Muito se fala sobre a questão jurídica envolvendo o nome das marcas Outbêco e Outback. Daniel explica que o jurídico da gigante estadunidense fez apenas três exigências para ele: não usar literalmente a mesma logo, mudar os nomes dos pratos e não abrir uma franquia em algum shopping do Rio de Janeiro. “Fácil de cumprir”, diz ele, que elogiou o dono do Outback com quem garantiu ter ótima relação.

Daniel Félix, criador do Outbêco. Sede da Praça da Harmonia, na Gamboa, faz sucesso no Rio de Janeiro. | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Daniel Félix, criador do Outbêco. Sede da Praça da Harmonia, na Gamboa, faz sucesso no Rio de Janeiro. | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Fora do Rio está tudo bem também. Já tem Outbêco na periferia de São Paulo, de Brasília. Todavia, não é só nas áreas mais pobres financeiramente falando que a marca se instala. Em agosto ou setembro deste ano, Lisboa, Portugal, vai ter uma sede da empresa carioca. Além disso, existem lojas em outros munícipios do estado do Rio e outras regiões do Brasil, como Nordeste, por exemplo.

“A pessoa fez contato perguntando quanto eu cobraria para que ela abrisse uma loja em Portugal. Eu disse que não sabia. Já tinha comentando com minha esposa que se ele oferecesse 10 mil Euros, eu liberava. Ele ofereceu 21 mil. Aí disse que aceitava o negócio”, sorriu Daniel.

Neste caso específico, o fraqueado terá liberdade para comprar os ingredientes e preparar os pratos – que terão que ter o padrão de qualidade do Outbêco carioca. No Brasil, a estrutura funciona com as cozinhas industriais enviando os alimentos prontos para as lojas.

Outbêco da Praça da Harmonia, na Gamboa, faz sucesso no Rio de Janeiro. | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Em meados de abril, no dia em que a equipe de reportagem do DIÁRIO DO RIO esteve na franquia da Praça da Harmonia, a primeira do Centro do Rio, choveu muito na cidade. Muito mesmo. Mesmo assim, o espaço estava com quase todas as mesas ocupadas. Só neste dia, Daniel havia fechado cinco novas unidades na Zona Norte. Costumam abrir, em média, duas por semana. A costela, principal prato do Outbêco, foi servida, acompanhada de batata frita. São quase sete toneladas de costelas vendidas todas as semanas nas lojas, que de quase não têm nada. O sucesso é por inteiro, um combo completo.

Fonte: Diário do Rio

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