Mulher com paralisia cerebral garante diploma e se forma em letras
3 de janeiro de 2020

Redação Hypeness

Para o site da revista Época, Carol Pires, jornalista e colunista do The New York Times, contou uma das histórias mais importantes na sua vida e de sua família – e que aconteceu bem aqui no Brasil. Ela conta que, na última terça-feira, foi assistir a apresentação de trabalho de conclusão de uma ex-aluna de sua mãe, Joana Pires, professora de escola pública. A aluna em questão é Kelly de Souza Rodrigues.
“Kelly começou a apresentação — “Estratégias pedagógicas do professor de língua portuguesa para o aluno autista no ensino superior: um estudo de caso” — dizendo ter se interessado pelo assunto depois de ouvir um professor queixando-se de um estudante autista. Odiou presenciar o preconceito vindo de um docente”, conta Carol.

A empatia de Kelly está ligada com o fato de que ela mesma já precisou de atenção especial para fora e dentro da sala de aula e sabe a diferença que isso pode fazer, já que Joana proporcionou isso a ela.

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Kelly fez parte de uma classe com 12 alunos, todos com algum tipo de deficiência. No caso de Kelly, a diplegia espástica, um tipo de paralisia cerebral, lhe causa principalmente problemas na dicção. Ela aprendeu a ler antes de conseguir falar. Escrevia os nomes dos objetos mostrados e desenhava o significado das palavras apontadas.

Carol lembra que Joana Pires a buscava todos os dias antes da aula e a devolvia depois do almoço porque a mãe da Kelly, Maria, saía muito cedo para trabalhar como empregada doméstica. A professora acompanhou Kelly por mais cinco anos depois da conclusão de sua alfabetização, aos 21 anos.

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“Ela se formou no ensino médio aos 21 anos, quando eu estava terminando a faculdade. Fez cursos de inglês e espanhol e se formou em assistente administrativa”, lembra Carol. “Em 2013, ela me mandou uma mensagem contando que queria fazer uma graduação em Letras. No ano seguinte, depois de quatro tentativas frustradas, ele passou no ENEM e começou a cursar Instituto Federal de Brasília, em São Sebastião, onde ela mora desde pequena”.

Na universidade, Kelly encontrou outras Joanas, que a acolheram e apoiaram o seu sonho da graduação. Foi intelectualmente desafiador para ela entender o que os professores queriam nos trabalhos e nas provas, mas não impossível. “Eu reprovei em oito disciplinas porque às vezes tinha dificuldades em entender o que os professores queriam nos trabalhos. Mas fiz muitas amizades. Apesar de todas as dificuldades, valeu a pena”, ela contou a Carol.

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O resultado está nas fotos da apresentação do TCC de Kelly. Carol conta que, depois da defesa, os professores anunciaram que haviam preparado uma festa surpresa para comemorar o momento, com direito a balões, bolo, e um cartaz: “Parabéns, você conseguiu”.

© Kauê Vieira

© Kauê Vieira

Kelly agradeceu sua orientadora do curso e relembrou os cuidados de Joana Pires. Também falou sobre seus planos no futuro: quer estudar para passar no concurso da Secretaria de Educação e fazer um mestrado em Educação Especial e Inclusiva – e não vemos a hora de ler a Carol contando sobre estes próximos passos da amiga.

Fonte: msn.com