Família: a Igreja Doméstica
9 de julho de 2017

“A consciência viva e atenta da missão recebida no sacramento do matrimônio ajudará os pais cristãos a dedicarem-se com grande serenidade e confiança ao serviço de educar os filhos e, ao mesmo tempo, com sentido de responsabilidade diante de Deus que os chama e os manda edificar a Igreja nos filhos. Assim a família dos batizados, convocada qual igreja doméstica pela Palavra e pelo Sacramento, torna-se, conjuntamente, como a grande Igreja, mestra e mãe.”

Em 1981, São João Paulo II enquanto Papa, publicou a Exortação Apostólica Familiaris Consortio. O documento pretendia elencar as funções da família cristã na atualidade; Tal carta permanece atual mesmo com a virada do século, afirmando a verdade da Igreja Católica: O matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade. 
Buscando disseminar a orientação da Santa Igreja e observando a necessidade de acompanhar as famílias nesta vocação, a Renovação Carismática Católica, através do Ministério para as Famílias, vêm desenvolvendo um trabalho catequético sobre a importância do embasamento das famílias na palavra de Deus. Dentro dessa realidade, podemos encontrar algumas famílias que, atendendo ao chamado evangélico, aceitaram, verdadeiramente, a responsabilidade e compromisso, feitos em seu matrimônio, de “estarem dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo e da sua Igreja.”
Dentre estas famílias, conversamos com três que, formadas recentemente, têm-se abandonado à providência.

“Sabemos que o essencial nunca nos faltou. Criamos nosso filho e, Graças a Deus, não nos falta nada.”

É o caso de Noédson Machado (24) e Nelma Fragata (26), casados há pouco mais de dois anos. Estudantes de pós graduação da UFRRJ, o casal, natural do Amazonas,  já durante o namoro descobriu o que a Igreja ensinava a respeito do matrimônio. “antes de casarmos nós tomamos a decisão de sermos abertos a vida, porque pudemos perceber a beleza desse ensinamento, e compreender os filhos como uma bênção mesmo com as dificuldades que são inerentes, dos cansaços que podem bater, mas sempre uma benção”.  

Para Noédson, a vivência cristã é indispensável para que,  hoje, possa compreender processos pelos quais passam com a chegada de Julio (1 ano), seu primeiro filho: “Como não temos família por perto e nem uma base financeira consolidada, pudemos experimentar da Graça de Deus porque nada nos faltou”.”Acreditamos que estamos agradando a Deus por agirmos dessa forma, independente das opiniões, nos sentimos bem com isso, não há pressão, apenas uma decisão tomada ainda no tempo de noivado” complementa Nelma. Quando perguntados se sonham em ter outras coisas o casal responde: “Sim, sonhamos. Mas sabemos que o essencial nunca nos faltou. Criamos nosso filho e, Graças a Deus, não nos falta nada.”

Ainda nesse contexto, quando indagados sobre críticas a sua decisão de formar família segundo a vontade de Deus, fica clara a serenidade com que lidam com elas: “não são agressivas. São em relação a nossa situação e não propriamente a ter filhos”. Estas críticas,  que para os dois são advindas da família, tem um caráter de preocupação, segundo Nelma, já que, ambos são nascidos em berços católicos. “Minha mãe teve sete filhos, ela mesma é uma inspiração; cuidava de todos sozinha, tendo entre nós diferenças de 1 ou 2 anos, então entendo essa preocupação, mas me espelharei nela pra enfrentar esse desafio, caso o Senhor me queira dar uma família numerosa”.

Questionados sobre uma rotina de oração em família, ambos respondem em uníssono “Sim! Mas acreditamos que ainda precisamos rezar mais.” E dão dica para os que vivem o tempo de namoro: “Criem o hábito de rezar juntos. No tempo de namoro, eu experimentava um tipo de oração e minha esposa outro e quando nos casamos percebemos uma dificuldade em orarmos juntos.”

O casal, que espera o segundo filho, tenta não viver na ansiedade de pensar em como “encaixar-se” em uma sociedade que parece não estar preparada para uma família numerosa: “nós já vivemos algumas limitações mas tentamos viver um dia de cada vez sempre confiando na providência de Deus. Nós temos amigos, que são irmãos, que nos auxiliam até mesmo para vivermos  a fé em comunidade. Para nós é mais uma prova de que quando nos abandonamos a providência, o Senhor faz tudo.” Conclui o pai de  Julio.

“A Palavra de Deus é sinônimo de acolhimento e conforto nos momento de aflição: “Me faz acreditar que eu sou capaz”.

Também para Leonardo Alves (32) e Raquel Morais (23),  pais de Alice (10 meses) e Antônio (7 meses de gestação), antes de contraírem matrimônio, há 1 ano e meio, o assunto abertura a vida já estava acordado: “Como fazemos parte do Caminho Neocatecumenal, já tínhamos esse pensamento de sermos abertos a vida.” Responde Leonardo.

De acordo com eles, nunca se sentiram verdadeiramente preparados para essa decisão: “Nós não usamos nenhum método contraceptivo, sabíamos apenas que viria quando Deus quisesse, quando Ele achasse que poderíamos receber. E foi uma alegria muito grande, para nós dois e para toda a família, quando soubemos da Alice.”

Para Raquel, a Palavra de Deus é sinônimo de acolhimento e conforto nos momento de aflição: “Me faz acreditar que eu sou capaz, mesmo não parecendo ser. Capaz de cuidar da Alice, de educa-la mesmo que o mundo esteja tão diferente, a Igreja me auxilia nesse sentido.”

Tendo passado por situações de preconceito com membros da família e amigos, a escolha  do casal é considerada loucura: “logo que casamos tivemos um bebê e agora temos outro, e as críticas ocorrem sim, as perguntas mais são comuns são ‘não vai ligar’, não vai fechar a fábrica’ além de sermos chamados de loucos por não termos espaçado uma gestação da outra por não termos ‘aproveitado’ o casamento. Mas essas coisas não me abatem não.” Diz Raquel. “A igreja nos acolhe e por ter outras pessoas que vivem a mesma situação que a gente, é algo que motiva e, não que estejamos preparados, mas Deus, sem dúvidas, tem nos ajudado porque passamos por situações em que, certamente por nós mesmos, não teríamos conseguido dar solução.” Completa Leonardo que, da faculdade ao trabalho, percebe o escândalo causado por viver a vocação familiar nessa dimensão tão verdadeira e real. Na sociedade em que, cada vez menos se pensa em filhos, esta escolha não é comum, também segundo Raquel, “Se vêem muitas crianças nascendo, mas não são formadas  conscientemente, dentro de uma estrutura familiar. As crianças nascem “por acidente”.” Até nos locais públicos, o casal diz perceber olhares interrogativos por conta de ter uma filha ainda pequena e já estar a espera de outro.

Perguntados também sobre a oração em família, o casal explica como envolve toda a prole, mesmo que ainda no ventre, na oração familiar, “costumamos rezar pelas crianças, principalmente a oração do Santo Anjo. quando a Alice já está quase pegando no sono, colocamos a mão na barriga da Raquel para que o Antônio também já possa receber a oração e para que eles já sejam colocados nessa caminhada dentro da Igreja.”

No sentido estrutural, a família vem se adaptando para receber os novos membros a medida que chegam “os carros são pequenos, as casas não são tão grandes como as de antigamente, mas a gente vai se adaptando na medida do possível. Não é isso que vai nos impedir de fazer a vontade de Deus.” concluem sorrindo.

“O mundo não é preparado. As pessoas percebem a chegada de um filho como se, a partir disso, se perdesse muita coisa, se perdesse vida. Mas a perspectiva cristã nos ajuda a enxergar isso de uma forma diferente.”

Já para Juliana Poiares (23), esposa de Cristiano Rodrigues (30) a previsão de se deparar com a questão estrutural é desesperadora. Casada há 1 ano e 9 meses, a jovem mãe de Giovanna (7 meses) se assusta com a ideia de “não caber na forma”, “É realmente essa experiência de colocar o pé sem saber se terá onde pisar firmemente. A gente ainda tem pouco para dizer, temos apenas uma filha, mas acredito que para famílias com mais filhos isso deva ser mais intenso. Ainda estamos na média para o mundo, mas a ideia já é um pouco desesperadora, parece que não vai ter lugar para a gente nos espaços comuns, sabe?! Como seria levar dez filhos ao shopping, por exemplo?” Para ela, o individualismo e a falta de uma rede de apoio é o que preocupa a maioria das mães.

Com relação a abertura a vida e a possibilidade de ter uma família numerosa, o casal lida com críticas e “ameaças”, “se vocês tiverem outro bebê agora, eu não sei o que eu faço com vocês.” comenta o casal entre risos. Para Cristiano, as expectativas diferentes do mundo são o que torna a escolha deles um escândalo, “O mundo não é preparado. As pessoas percebem a chegada de um filho como se, a partir disso, se perdesse muita coisa, se perdesse vida. Mas a perspectiva cristã nos ajuda a enxergar isso de uma forma diferente.”

Sobre esta perspectiva cristã, Cristiano afirma que a caminha da fé católica ajuda e dá esperança de que nada faltará a sua família; E, apesar de também não se verem preparados para realmente terem uma família, os dois dizem experimentar muito da graça de Deus já com a primogênita.

Desejo dos dois desde a adolescência, casar-se e ter uma família já era plano de ambos, mesmo antes de se conhecerem. Mesmo conversando pouco sobre essa decisão no tempo de namoro, os dois sabiam que a abertura a vida era a escolha certa. “Passamos a conversar mais sobre isso nos dois primeiros meses de casamento, tanto que engravidei quando estávamos com 5 meses de casados.”

Por reconhecerem a bondade do Senhor em sua vocação e Sua imensa misericórdia e providência, algumas famílias abraçam a vocação matrimonial e familiar da maneira como a Santa Igreja nos ensina; a abertura a vida se torna realidade nestes lares jovens, onde, apesar de (ainda) pequenas em quantidade de membros, as Igrejas domésticas crescem em consonância a vontade de Deus, e isso, certamente, têm agradado ao Senhor.

Fonte: http://santateresinhaseropedica.com.br/familia-a-igreja-domestica.html