Contradição entre nome e prática: “Eco” no nome, devastação na ação
Moradores da Estrada Miguel Pereira, no km 1, em Seropédica, estão revoltados com o desmatamento promovido pela concessionária EcoRioMinas em um terreno onde está sendo construído um depósito para entulho. Segundo os denunciantes, diversas árvores frutíferas, algumas com mais de 30 anos, foram arrancadas sem qualquer diálogo com a comunidade e, ao que tudo indica, sem a devida transparência sobre a autorização ambiental para a intervenção.
Maurício Gitirana, morador da região, lamenta a perda de árvores valiosas tanto do ponto de vista ambiental quanto afetivo. “Derrubaram três pés de Mourão Vivo com 25 anos, obtidos na Embrapa, além de um jenipapeiro com mais de 30 anos e pés de jamelão que demoram de três a cinco anos para frutificar. No passado na construção do Arco Metropolitano (BR 493) conseguimos salvar uma nova espécie de mangueira do Brasil, a Embrapa de Petrolina conseguiu produzir mudas da original, mas o dano foi feito a árvore Matriz que ficava nesta mesma área foi destruída”, relatou.
Além da devastação ambiental, os moradores denunciam que a intervenção ocorreu até mesmo durante a madrugada, desrespeitando a legislação municipal do silêncio. Ao ser questionada por escrito, a empresa teria se esquivado, alegando se tratar de uma obra do governo federal, e que a RJ-125 — área da intervenção — é de responsabilidade estadual.
Outra denúncia grave envolve o impacto na fauna local. “Destruíram ninhos de passarinhos que se abrigavam nas árvores. Aquilo ali era um pequeno refúgio ecológico”, completou Maurício, que também afirmou estar buscando amparo jurídico diante dos danos causados.
O paradoxo do “eco”
O nome “EcoRioMinas” soa irônico diante da conduta denunciada. O prefixo “eco”, do grego oikos (casa, ambiente), é comumente associado à ecologia, sustentabilidade e práticas amigáveis ao meio ambiente. Termos como “ecologia”, “ecossistema” e “eco-friendly” remetem a uma convivência harmônica entre as atividades humanas e a natureza — justamente o oposto do que moradores presenciaram em Seropédica.
O uso do “eco” como marketing ambiental, sem que isso se reflita em ações responsáveis, levanta questionamentos éticos e jurídicos. É legítimo uma empresa carregar em seu nome uma ideia de preservação ambiental enquanto destrói árvores frutíferas e habitats naturais em áreas urbanas? A população de Seropédica exige respostas — e, acima de tudo, respeito.
Autorização ambiental foi concedida?
Outro ponto ainda nebuloso diz respeito à eventual autorização ambiental para o desmatamento, o licenciamento é necessário para a supressão das árvores, algumas de espécies nativas e cultivadas com apoio de instituições como a Embrapa.
De acordo com a legislação ambiental brasileira, qualquer intervenção com potencial impacto ambiental — especialmente em áreas urbanas ou próximas a corpos d’água — deve passar por um processo rigoroso de licenciamento, que inclui consulta à comunidade, avaliação de impactos e compensações ambientais.
Reação da comunidade e próximos passos
A indignação dos moradores está crescendo, e a expectativa é que os órgãos ambientais estaduais e federais se posicionem sobre a legalidade e os impactos da obra. A Câmara Municipal também poderá ser provocada a apurar o caso por meio de audiências públicas ou requerimentos de informação.
Maurício Gitirana já anunciou que terá uma reunião com sua advogada nos próximos dias para tratar dos “excessos e danos causados” pela obra. A comunidade espera, no mínimo, um plano de compensação ambiental e a restauração de parte da vegetação perdida.
Por Redação | Jornal Seropédica Online
Com colaboração da comunidade da Estrada Miguel Pereira, km 1



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