Pinturas de autor anônimo. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro.
“Em 1843 Dom Pedro II era um jovem de apenas 17 anos, mas com o dever de perpetuar uma dinastia, a única monarquia em meio a republicas, o ato do casamento só reforçaria o ideal dessa maioridade.
O matrimonio de Teresa Cristina teve um primeiro efeito imediato: as núpcias entre seu irmão Luigi, Conde Aquila e D. Januária, herdeira presumida do trono caso o irmão não tivesse filhos.
As notícias de que uma princesa napolitana seria esposa do Imperador do Brasil não foi das melhores, o primeiro motivo da reação negativa foi pela expectativa geral de que a nova Imperatriz, seria uma arquiduquesa da Áustria, uma chance da nação brasileira se redimir com os Habsburgos após a morte trágica de Dona Leopoldina em 1826.
Dom Pedro II, ainda imaturo, se mostrou extramente decepcionado com a aparência de Dona Teresa Cristina, ela não era igual ao retrato que lhe haviam enviado, que fazia lembrar das donzelas de feições perfeitas dos romances germânicos de que tanto gostava de ler. Sob a orientação de seu tutor, Frei Pedro de Santa Mariana, o jovem monarca aceitou as realidades que o matrimônio lhe exigia e evitou novos constrangimentos.
Foram necessárias longas horas de persuasão para convencê-lo de que não poderia repudiar a noiva que lhe fora escolhida e que deveria cumprir seu dever. O casamento foi marcado para o dia seguinte, 4 de setembro, e, qualquer que fosse seu tormento interno, o jovem imperador tinha que apresentar uma boa cara ao mundo.”
Um jovem funcionário servindo a bordo da escuna americana Enterprise, então estacionada no Rio de Janeiro, desembarcou naquele dia e, entrando sorrateiramente na capela imperial, deixou registro da cerimônia:
“O imperador estava, ou pelo menos parecia estar, de muito bom humor. o uniforme de um Coronel do Exército…. O único ornamento de qualquer tipo que ele usava na ocasião era uma única ordem militar composto de brilhantes, no peito esquerdo. A princesa estava vestida notavelmente simples, usando um vestido de renda branca sobre cetim branco, com um único anel de esplêndidos grandes diamantes brasileiros, para confinar seus cabelos negros, …
No total, a aparência da princesa era bastante atraente. Ela é simples, modesta, de aparência inteligente e extremamente saudável embora não seja o que se poderia chamar de uma bela dama. O Conde de Aquila estava esmeradamente trajado com o seu apropriado uniforme naval azul, vermelho e branco”, acompanhado pela irmã do imperador, D. Januária, “que se vestia à maneira da Noiva, excepto mais ornamentos sobre a sua pessoa , que em minha humilde opinião não melhorou sua bela aparência.”
O nó do casamento foi amarrado pelo chefe da Igreja Romana no Brasil….” Ele celebrou a cerimônia de casamento de uma maneira muito solene e impressionante; pelo menos, assim suponho pelos movimentos, pois devido ao barulho inevitável causado por uma multidão tão imensa de pessoas, não pude ouvir uma palavra do serviço. , e retiraram-se pela mesma passagem por onde tinham entrado, para a privacidade do Palácio.”
Se o escrivão da Marinha dos Estados Unidos não pudesse seguir os noivos até o palácio da cidade, o encarregado de negócios português poderia fazê-lo.
“Fomos às salas públicas onde seria realizada a recepção, para a qual havíamos sido convidados. Pouco depois, o ministro das Relações Exteriores apareceu e nos disse que em consequência de H. M. o imperador estar muito cansado, não teríamos o honra de ser-lhe apresentado naquela ocasião.”
O imperador compareceu ao banquete de estado realizado naquela noite no palácio de São Cristóvão. A cerimônia de bênção do leito nupcial precedeu o banquete, mas o que aconteceu depois que a refeição terminou e o jovem casal finalmente ficou sozinho era outra questão. Um dos principais objetivos do casamento era produzir herdeiros para o trono. A imperatriz não engravidaria até junho de 1844, dez meses após o dia do casamento. Pode haver muitas razões para esse longo atraso Um diário mantido por um membro da Câmara dos Deputados anotou em 3 de outubro de 1843: “Dizem que o P. é impotente. Nenhum sinal de cópula foi encontrado nas folhas.” Segundo uma tradição oral recolhida pelo historiador Tobias Monteiro: “O imperador recusou-se por muitos dias a iniciar a vida conjugal. A imperatriz chorou e pediu que a devolvessem aos pais. No final, o coração do imperador foi tocado e ele finalmente consentiu em cumprir seus deveres de esposo.” O primeiro filho nasceu em fevereiro de 1845.
Em outubro do mesmo ano, o casal empreendeu uma viagem de seis meses ao extremo sul do Brasil. Estimulado por essas novas experiências, D. Pedro II amadureceu tanto como indivíduo quanto como governante. Tornou-se cortês nas maneiras, constantemente acessível e adepto de tratar com os que ficava conhecendo.
A imperatriz tinha consciência de seu lugar junto do imperador, sobretudo como esposa e depois como mãe. O Brasil ainda se firmava como uma monarquia entre repúblicas, havia superado as revoltas liberais de 1842 enquanto no Sul ainda ocorria a sangrenta Guerra dos Farrapos. O Casamento do Imperador era uma demonstração de força e estabilidade de uma Monarquia que ainda estava sendo contestada.
Nos anos seguintes a sua vinda, Dona Teresa Cristina, inspirada no exemplo da Imperatriz Leopoldina, conquistou a simpatia dos brasileiros. Ao invés da princesa dos “Reis Sinistros” de Nápoles em 1843, passou ser conhecida como “Mãe dos Brasileiros” pelos seus atos de caridade com a população mais pobre, ajudou o marido a quebrar sua timidez publica para se tornar o mais popular dos monarcas do Brasil.
Eu devo dizer que a simplicidade sempre reinou na corte brasileira, onde o Imperador e a Imperatriz são os maiores exemplos de virtude.”
Fonte: Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825-1891
Por Roderick J. Barman/ História de Dom Pedro II, Volume 1, Ascensão. Por Heitor Lyra
Deixe a sua opinião sobre o post