Chachapoya, o “povo das nuvens” que habitou a Amazônia andina
1 de abril de 2023

A origem do nome ‘Chachapoya’ é debatida por estudiosos, mas o que se sabe é que foi dado pelos próprios Incas e provém do idioma quéchua ‘sach’a phuya‘, algo como ‘floresta nublada’. Estudiosos debatem a etimologia do termo, embora “Chacha” evidentemente se referisse a uma grande etnia que ocupava o alto Utcubamba Vale, durante o século XVI.

O território possuía uma posição estratégica em relação a interação cultural entre grandes tradições arqueológicas da América do Sul, que são: os Andes centrais, setentrionais e a Amazônia ocidental, que acabou contribuindo para o desenvolvimento artístico, arquitetônico e iconográfico.

“Com base nas informações etnohistóricas disponíveis e distribuições de traços arqueológicos, o limite de Chachapoya identificado de forma mais confiável é o Marañón até o oeste. Evidências documentais escassas colocam um limite sul em torno de 8° de latitude sul perto da fronteira compartilhada pelos modernos departamentos de La Libertad e Huánuco. O norte e leste e os limites permanecem desconhecidos e provavelmente flutuaram”, 

indica trecho do artigo ‘Chachapoyas: Cultural Development at an Andean Cloud Forest Crossroads’.

Foto: Reprodução/Artigo ‘Chachapoyas: Cultural Development at an Andean Cloud Forest Crossroads’

De acordo com estudos, os assentamentos Chachapoya normalmente ficam nos topos das montanhas e dos vales cobertos por uma espessa floresta nublada, onde estão expostos a massas de ar úmido que nascem da bacia amazônica e condensam entre 2.500 e 3.500masl. Os cumes íngremes bloqueando o fluxo de ar úmido para oeste, deixando “topoclimas”, geram grande complexidade biogeográfica. 

A partir da análise de artefatos feita por expedições arqueológicas, os Chachapoyas exibiam uma tradição cultural mais andina do que amazônica, como também mostram os sarcófagos antropomórficos e “mausoléus de chullpa”, elementos funerários observados nos Andes.

Os Chachapoyas possivelmente foram organizados em grupos de linhagem conhecidos em quéchua como ‘ayllus’, que compartilhavam os direitos à terra e consideravam os locais de origem, chamados de pacariscas, como as “moradas sagradas de seus ancestrais”.

Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Muito do que se sabe da cultura Chachapoya é de crônicas coloniais e de registros arqueológicos. Os Chachapoyas eram famosos por terem guerreiros destemidos, além de poderosos xamãs e herbalistas, que conheciam a fundo o ambiente natural amazônico, visto como ‘esotérico’ na concepção andina.

Outro ponto de destaque é em relação ao domínio espanhol, que gerou pouquíssimas vantagens para os chachapoyas, perdendo sua independência política e sofrendo muito com epidemias espalhadas pelos invasores. Calcula-se que, depois de 200 anos sob a Coroa Espanhola, a população desse povo tenha se reduzido a 10% do total pré-colombiano.

Arqueologia Chachapoya

Antes de serem dominados pelos Incas, a cultura desses povos já era muito avançada. Apesar de serem menos estudadas que as outras culturas, presenças de diversos sítios arqueológicos Chachapoyas foram encontrados. Os mais conhecidos são a fortaleza de Kuélap, no Amazonas, e a cidade do Gran Pajaten, dentro do Parque Nacional Abiseo, em San Martín, sendo a de difícil acesso. 

A fortaleza de Kuélap é situada em um morro isolado a 3.000 metros de altitude, dominando o vale do rio Utcubamba. Construída possivelmente no século VIII para defender a região contra o império Wari, que se expandiu antes dos Incas. 

A arquitetura Chachapoya é caracterizada por monumentos decorados com um sistema de pedras dispostas em diferentes níveis, formando desenhos geométricos. Em geral, as construções são circulares e as paredes apresentam relevos com figuras simbólicas.

Foto: Reprodução / Wikimedia Commons

A cidade de Kuélap possuía paredes de granito e se elevavam até 20 metros de altura, contando com edifícios cerimoniais e residenciais. Já Gran Pajatén era um antigo povoado no topo de uma colina, com aproximadamente 25 edifícios, com espaços geométricos em forma de mosaico, além de outras figuras representadas por cocares elaborados.

Em Los Pinchudos, estátuas de madeira foram dispostas sob os beirais da câmara mortuária principal, com frisos geométricos destacados em tons de ocre, amarelo e branco. Achados de pingentes de concha e cerâmica Chimú-Inca apontam as ligações de troca estabelecidas com a costa.

Revash Mausoléu dos Chachapoyas. Foto: Shutterstock

Sarcófagos e múmias

Em 2006, quatro sarcófagos dessa cultura peruana foram encontrados por camponeses a mais de 2.700 metros de altura na região amazônica do Peru, segundo um jornal local da região. Com 1,5 metros de altura, foram encontrados adornados com cabeças estilizadas de desenho similar aos que existem na localidade de Karajía, onde os antigos Chachapoyas enterravam seus líderes.

A descoberta foi feita nas montanhas do distrito de Kohechan, província de Luya, a cerca de 45 quilômetros da cidade de Chachapoyas. Anos depois, já em 2013, outros 35 sarcófagos foram descobertos por habitantes que circulavam na montanha ‘El Tigre’, no distrito de Jazán, província de Bongará.

De acordo com Manuel Cabañas, diretor regional do ministério do Comércio e do Turismo do Peru, citado pela agência de notícias oficial do país, os sarcófagos contém as múmias embalsamadas, que “permanecem em muito bom estado de conservação”. As primeiras investigações apontam para que se trate dos restos mortais de crianças da mais alta hierarquia da civilização.

Foto: Reprodução / Tripadvisor

Cidade 

Atualmente, Chachapoyas é uma cidade do Departamento de Amazonas que fica entre os Andes e a floresta. Além da arqueologia e história cultural, também é famosa pelas orquídeas e casarões de estilo vice-reinado e republicano. Turisticamente, a cidade é popular por conta das cataratas de Gocta e também é chamada de “País das nuvens”.

Foto: Reprodução/Travel Peru

Referências

Chachapoyas: Cultural Development at an Andean Cloud Forest Crossroads; Adriana Von Hagen, Warren Church.

 KARINA PINHEIRO – KARINA.ALVES@AMAZONSAT.COM.BR

Fonte: Portal Amazônia

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