Unicamp descobre droga capaz de deixar células mais saudáveis durante envelhecimento
16 de dezembro de 2018

Tempo de vida de verme estudado em pesquisas sobre longevidade aumentou 18% com uso de medicação enoxacino, que provocou aumento da vitalidade. Pesquisa foi publicada em periódico internacional.

Mais saúde na velhice. O Laboratório de Biologia do Envelhecimento, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em Campinas (SP), descobriu uma droga capaz de aumentar a vitalidade das células de vermes, interferindo tanto no tempo quanto na qualidade da vida deste ser vivo.

O estudo foi publicado no periódico internacional Redox Biology. O medicamento que apresentou o avanço nas pesquisas, iniciadas há cinco anos com colaboração nacional e internacional, é o enoxacino. Um agente antimicrobiano já usado para tratar infecções urinárias em humanos.

“Muita gente não considera o envelhecimento um processo a ser tratado como uma doença, todo mundo envelhece um dia. O que a gente quer não é tornar as pessoas imortais, mas que elas envelheçam com mais saúde”, explica o coordenador do estudo, Marcelo Mori.

Os vermes Caenorhabditis elegans – medem no máximo 1 mm e são frequentemente usados em estudos sobre envelhecimento por terem um ciclo de vida de até 30 dias – viveram 18% a mais com a droga, se comparado aos que não foram submetidos à substância.

“É o avanço mais recente nas pesquisas brasileiras sobre esse tema”, afirma Mori.

Pesquisador e coordenador do estudo da Unicamp sobre droga que reduz efeitos maléficos da velhice, Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação

Pesquisador e coordenador do estudo da Unicamp sobre droga que reduz efeitos maléficos da velhice, Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação

Como a droga age

Mori explica que o diferencial está no impacto da droga nas moléculas reguladoras microRNAs, presentes no genoma de uma diversidade de organismos, de plantas até animais.

“A gente observa que é uma via que envolve a produção de moléculas chamadas microRNAs. Quando ela está ativada, ela é pró-longevidade. Quando é inibida, está associada ao envelhecimento precoce, a doenças”, explica o pesquisador.

Entre os males causados pela inibição dessas moléculas, estão: diabetes, doenças vasculares e processos inflamatórios associados a doenças crônicas.

Vermes estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal

Vermes estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal

Nos vermes, foi visível a preservação da capacidade motora na velhice desses animais que usaram a droga.

“Acontece com o verme e com humanos. A gente vai perdendo músculos, coordenação, os vermes também perdem capacidade motora. No verme a droga consegue preservar por mais tempo a capacidade motora”.

Os pesquisadores concluíram que a via por meio dos microRNAs é chave no controle do processo de envelhecimento baseado em dados de associação genética. O estudo já está sendo feito também em camundongos.

“A gente tem dados positivos contra doenças metabólicas. É bem possível que ela [droga] tenha um comportamento positivo em mamíferos maiores”, acredita o coordenador.

Pesquisa da Unicamp que estuda efeito de medicações em microRNAs causando efeitos benéficos na velhice é coordenada por Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação

Pesquisa da Unicamp que estuda efeito de medicações em microRNAs causando efeitos benéficos na velhice é coordenada por Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação

Fonte: G1

Princípio ativo em nova droga

Por ser um antibiótico, Mori afirma que, com a descoberta, os pesquisadores estudam uma maneira de usar o princípio ativo para desenvolver uma nova medicação, sem efeitos colaterais.

Atualmente, o enoxacino atua em duas frentes: na bactéria a ser combatida, e diretamente nas células, reduzindo a sua degeneração.

“A gente tem um processo de melhoramento da droga para conseguir chegar num ensaio clínico que traga benefícios para população. […] A gente quer preservar só o efeito nas células, que é o que contribui para a longevidade”, afirma.

Outra droga que vem sendo estudada com efeitos pró-longevidade é a metformina, mas ela apresenta uma ação diferente nas células. Altera o metabolismo, mas sem os efeitos nos microRNAs.

“Como atuam por vias diferentes, pode ser que elas sejam aditivas, é uma possibilidade”, avalia Mori.

 

Verme estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas, apresentou aumento no tempo de vida. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoalVerme estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas, apresentou aumento no tempo de vida. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal

Verme estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas, apresentou aumento no tempo de vida. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal