Doenças mentais e comportamentais são problema crescente entre jovens
20 de março de 2019

Um problema muitas vezes silencioso tem ganhado evidência nos últimos anos. A cada dia, uma média de três jovens com até 19 anos de idade são atendidos na rede pública de saúde do Paraná por conta de transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ansiedade e perturbações relacionadas ao uso de substâncias psicoativas (álcool e outras drogas, por exemplo).

De acordo com o Ministério da Saúde, entre os anos de 2014 e 2018 um total de 6.095 jovens foram internados por conta desse tipo de doença no Estado. Em 2014, segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), haviam sido registradas 1.230 atendimentos. Até 2016 o número foi caindo, chegando-se a ter apenas 1.072 internações num ano.

Em 2017, porém, a tendência de queda foi invertida e houve alta de 15,3% nos atendimentos, que somaram 1.236. Já em 2018, último ano com dados disponíveis, foram 1.457 atendimentos, com média de quatro internações por dia e alta de 17,9% nas ocorrências na comparação com 2017.

A maior suscetibilidade dos jovens a problemas emocionais e transtornos mentais, avaliam especialistas, está relacionada a expectativa e insegurança excessiva com relação ao futuro. Como o mundo atual cobra urgência pelo sucesso, as tensões e pressões acabam se exacerbando.

O cenário, contudo, é preocupante não apenas pelos transtornos em si, mas também pelo fato de que um problema desse tipo pode evoluir para distúrbios mais sérios e tende a se agravar na medida em que a pessoa envelhece.

Em 2016, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) identificou que um em cada três adolescentes brasileiros sofre de transtornos mentais comuns (TMC), caracterizados por tristeza frequente, dificuldade para se concentrar ou dormir, falta de disposição para tarefados do dia dia, entre outros sintomas. Já a Organização Pan Americana da Saúde (Opas) aponta que metade dos problemas de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.

Problemas servem como alerta ao suicídio
De acordo com a psicóloga Laura Quadros, chefe do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o aumento das ocorrências envolvendo transtornos mentais e comportamentais entre jovens acaba por colocar o suicídio como uma emergência médica. Em 2017, por exemplo, foram registradas no Paraná 763 mortes por lesões autoprovocadas intencionalmente. Em 8% dos casos, a vítima tinha até 19 anos.

“Faltam redes humanas de apoio, as pessoas vivem mudanças na configuração dos relacionamentos e tudo isso pode criar uma sensação de que você vive aquele sofrimento sozinho. Por isso, uma das apostas que fazemos em nosso atendimento preventivo é na expressão. Até para que se possa falar também das coisas ruins. Nas redes sociais, em geral, as pessoas falam das coisas maravilhosas. E é importante falar mais amplamente sobre os sentimentos”, disse a psicóloga em entrevista à Agência Brasil.

Tabu ajuda a aumentar ocorrências
Diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o médico Antônio Geraldo da Silva afirma que as doenças psiquiátricas têm ficado mais prevalentes porque as pessoas não procuram ajuda e, consequentemente, não conseguem um tratamento adequado ao problema.

“Tem gente que vai precisar só de medicamento, tem gente que vai precisar só de psicoterapia e tem gente que vai precisar de psicoterapia e medicamento. Varia de pessoa para pessoa e do diagnóstico que é feito”, explica.

Já a psicóloga Laura Quadros ressalta a falta de redes humanas de apoio, o que pode criar a sensação de que o paciente vive aquele sofrimento sozinho. “Nas redes sociais, em geral, as pessoas falam das coisas maravilhosas. E é importante falar mais amplamente sobre os sentimentos. Por isso, uma das apostas que fazemos em nosso atendimento preventivo é na expressão.”