Coronavírus: o risco real de transmissão pelos olhos
15 de julho de 2020

A possibilidade de transmissão do novo coronavírus pelos olhos tem sido motivo de preocupação para muitos pessoas. Isso fez com que o uso do escudo facial saísse do ambiente hospitalar e passasse a ser visto nas ruas, usado por inúmeras pessoas, nos mais diversos ambientes. Mas, afinal, isso é realmente necessário?

Segundo o oftalmologista Wallace Chamon, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e professor da Unifesp, não existe nenhuma orientação das autoridades sanitárias para o uso de escudos faciais pela população geral. “Profissionais que estão sujeitos a entrar em contato com a secreção do paciente, principalmente profissionais de saúde da linha de frente de atendimento, realmente precisam usar”.

A possibilidade de contrair o coronavírus pelos olhos veio a público pela primeira vez no final de janeiro, quando diversos especialistas afirmaram que essa forma de transmissão seria “absolutamente possível”. O contágio ocorreria quando o paciente encosta as mãos infectadas junto ao globo ocular.

Em maio, um estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, confirmou que o coronavírus pode entrar no corpo humano pelos olhos. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após encontrarem a proteína ECA2 e a enzima TMPRSS2 nos olhos de pessoas que morreram de outras causas que não Covid-19.

A ECA2 e a enzima TMPRSS2 são usadas pelo coronavírus para invadir as células e se multiplicar no organismo. Isso explicaria por que alguns pacientes com Covid-19 apresentam conjuntivite. Segundo os autores, os resultados sugerem que os olhos não são somente uma porta de entrada para a infecção, mas também uma fonte de transmissão, por meio das lágrimas.

Especialistas acreditam que a conjuntivite, sintoma presente em 1% a 3% dos pacientes com Covid-19, pode ser o resultado do coronavírus se deslocando do trato respiratório para os olhos. Mas também poderia ser um resultado direto do vírus atacar as células dos olhos, ligando-se aos receptores da ECA2 presente no órgão.

“Há um ducto que liga o trato respiratório aos olhos. Portanto, se todo o trato respiratório tiver coronavírus, provavelmente alguma partícula viral vai escapar para a lágrima, por essa ligação, mas isso não significa que pode haver transmissão pela lágrima”, explica Chamon,

Pesquisa publicada da revista científica Ophthalmology, da Academia Americana de Oftalmologia, concluiu que é improvável que pacientes infectados transmitam o vírus para outras pessoas através das lágrimas. Entretanto, os autores ressaltaram que nenhum dos pacientes do estudo apresentou conjuntivite em decorrência da doença. Isso ignifica que, embora rara, ainda existiria a possibilidade desse tipo de transmissão em pessoas com Covid-19 que desenvolvem conjuntivite como um dos sintomas.

Prevenção

Qual é a melhor forma de se proteger? “Os principais cuidados para prevenir a infecção por coronavírus são higienizar as mãos, manter a etiqueta respiratória, evitar colocar a mão na face ou coçar os olhos e sempre usar máscara”, diz o infectologista Gerson Salvador, especialista em saúde pública pela USP.

O coronavírus, assim como outros vírus respiratórios, entra no organismo por mucosas, como boca, nariz e olho. Isso acontece principalmente por meio das nossas mãos, que acabam se contaminando quando tocamos em superfícies e levarmos a mãos ao rosto, o vírus entra no organismo. Por isso é tão importante manter as mãos limpas.

Outra forma possível é um pessoa infectada tossir ou espirrar diretamente no rosto de uma pessoa saudável e uma gotícula entrar diretamente nos olhos. Por outro lado, se todas as pessoas estiverem de máscara, isso não acontece.

“Se alguém sem máscara tossir nos meus olhos, eu serei infectado, mesmo que eu esteja de máscara. Por isso, somente eu usar máscara não é suficiente. Nesse caso, eu realmente precisaria estar de máscara e escudo facial. Então é importante lembrar que usar máscara serve não só para auto-proteção, mas também para proteger outras pessoas”, diz o infectologista Wilbur Chen, professor de Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Embora não seja necessário, não há contraindicação para quem decidir usar o escudo facial pois se sente mais seguro e protegido, desde que ele seja usado como complemento ao uso da máscara e jamais no lugar dela.

Fonte: Veja