CIDADE AUSTRALIANA PREVINE CASOS DE DENGUE COM MOSQUITOS INFECTADOS COM BACTÉRIA
2 de agosto de 2018

Na cidade de Townsville, no nordeste da Austrália, não é o Aedes aegypti que contamina o homem, mas o homem que infecta o mosquito. Dessa forma, o município de porte médio, com cerca de 190 mil moradores, conseguiu superar a dengue, que era comum durante a estação chuvosa.

Resultados do World Mosquito Program (WMP), divulgados nesta quarta-feira, mostram que nos últimos quatro anos não foram registradas transmissões locais da doença. — Estamos satisfeitos pelos dados terem mostrado que não houve transmissão local da dengue nas últimas quatro estações chuvosas, nos locais onde o programa foi estabelecido — afirmou o diretor do WMP, Scott O’Neill. — Em anos anteriores, os casos de dengue adquiridos localmente eram um problema constante.

Primos’ do vírus da zika também podem causar microcefalia, diz estudo, Zika é responsável por perdas de até R$ 14 bilhões no Brasil A estratégia adotada pelo programa é de controle biológico, com a liberação de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia pipientis.

Na natureza, ela ocorre naturalmente na maioria dos insetos, incluindo o pernilongo comum, mas não no Aedes. Quando o mosquito é infectado, ele se torna incapaz de transmitir dengue, além dos vírus chicungunha, zika e mayaro.

No organismo dos mosquitos, a bactéria fica dentro das células, que também são usadas pelos vírus para a multiplicação. Dessa forma, acontece uma competição entre a bactéria e o vírus, e como a Wombachia já está estabelecida, ela leva vantagem nessa disputa, impedindo que o vírus chegue às glândulas salivares do inseto, por onde é transmitido para os humanos.

Entre novembro de 2014 e junho de 2018, foram registrados quatro casos de transmissão local da dengue em Townsville, sendo que três foram em áreas não cobertas pelo programa. No outro, o paciente transitava por toda a cidade e o local de contaminação é considerado incerto. Nos 44 meses anteriores, foram notificados 54 casos da doença adquiridos localmente.

O programa de liberação de mosquitos infectados começou em 2014 e hoje cobre uma área de 66 quilômetros quadrados. A vantagem desta abordagem é que as fêmeas infectadas geram filhotes também portadores da bactéria, quando cruzam com machos infectados ou não. E quando um macho infectado cruza com uma fêmea normalmente, os ovos não eclodem.

Dessa forma, é possível ir substituindo, gradualmente, a população de Aedes selvagens, transmissores de doenças, pelos contaminados, que são inofensivos.— Por um custo aproximado de 15 dólares australianos por pessoa, o teste em Townsville demonstra que a estratégia pode ser implementada rapidamente, de forma eficiente e baixo custo, para ajudar na proteção de comunidades contra doenças transmitidas por mosquitos — afirmou O’Neill. — Isso cria as estruturas para liberações futuras em cidades maiores, globalmente, onde prevemos um custo reduzido para US$ 1 por pessoa.

Desde o início do programa na Austrália, testes foram iniciados na Colômbia, na Índia, na Indonésia, em países insulares no Pacífico, no México, no Sri Lanka, no Vietnã e no Brasil. Por aqui, o programa piloto foi iniciado em 2016, com a liberação de mosquitos com Wolbachia em Tubiacanga, na Ilha do Governador, bairro da Zona Norte do Rio, e em Jurujuba, em Niterói.

Nas duas áreas, foram estabelecidas populações sustentáveis de mosquitos com Wolbachia. — Nós fizemos uma expansão e já cobrimos 270 mil pessoas em Niterói e 838 mil, no Rio de Janeiro — contou Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do WMP no Brasil. — Na primeira fase, o objetivo era formar populações sustentáveis do mosquito.

O programa carioca tem capacidade para a produção de 3 milhões de mosquitos com a bactéria semanalmente, mas não há planos de expansão. No momento, os pesquisadores se concentram no estabelecimento de colônias sustentáveis nas áreas já cobertas e no cruzamento de dados epidemiológicos para mensurar o impacto das ações no número de casos de doenças. — Estou confiante que os resultados sejam positivos — comentou Moreira. — É uma bactéria inofensiva para humanos, para os mosquitos e para o meio ambiente, capaz de conter o vírus da dengue. E depois que as populações são substituídas, não são necessárias novas ações naquela região.