O pensamento positivo pode curar doenças?
6 de março de 2023

Não é incomum, quando estamos doentes ou passando por problemas pessoais, recebermos um conselho amigo para que nos mantenhamos em um estado mental positivo para que encontrássemos uma solução para o problema ou para que a doença passe logo. Curiosamente, cientistas estão tentando mapear como nosso cérebro reage a doenças comandando o nosso sistema imunológico. E algumas evidências têm mostrado que nossa resposta imune pode ter relação direta com nosso “estado de espírito”, por assim dizer.

Antes de mais nada, cabe pensarmos que não é nenhum exagero dizer que o nosso cérebro constitui um dos maiores mistérios da ciência atual. Esse órgão, que é responsável por uma enormidade de funções em nosso corpo, é também um dos principais responsáveis por nossas emoções. Encontrar e entender a fundo o funcionamento dessas emoções e verificar como isso pode nos beneficiar no tratamento de doenças seria uma descoberta imensa.

Por exemplo, desde 1989 se verificou que, as pacientes com câncer de mama que fizeram parte de grupos de apoio e terapia sobreviveram por mais tempo em comparação com as que não tiveram tal suporte. Portanto, já é sabido que o estado emocional possui conexão com a forma com que nosso corpo lida com as mais diversas doenças e adversidades.

Uma reportagem recente da revista científica americana Nature relatou a pesquisa de uma cientista israelense, Hedva Haykin, que investigou se era possível atenuar ataques cardíacos estimulando a região do cérebro relacionada com as emoções positivas. Para isso, ela avaliou o coração de diversos ratos que tinham sofrido ataques cardíacos. Alguns dos espécimes apresentavam cicatrizes e marcas escuras de lesões cardíacas maiores.

Estudos sugerem que o suporte emocional pode ser uma ferramenta adicional no enfrentamento de doençasEstudos sugerem que o suporte emocional pode ser uma ferramenta adicional no enfrentamento de doençasFonte: Getty Images

A chave para entender a correlação entre a gravidade das lesões aparece quando sabemos que somente alguns ratos haviam recebidos estímulos nas regiões do cérebro responsáveis pelas emoções positivas, e justamente nesses ratos, as lesões eram bem menores. Ou seja, foi observado que os ratos que estavam constantemente recebendo emoções positivas como motivação e recompensa, por exemplo, tiveram uma melhor resposta e uma melhor cicatrização em lesões cardíacas do que os ratos que não receberam o estímulo.

As implicações de uma observação como essa tem potencial para serem muito importantes. Podemos, por exemplo, entender o funcionamento do conhecimento popular sobre o real “poder da mente sobre o corpo”. Com esse entendimento, poderíamos melhorar ainda mais o uso do efeito placebo, onde um paciente melhora de sintomas de uma doença tomando um remédio “falso” sem saber. Além disso, em um cenário mais otimista, entender como nosso sistema nervoso trabalha ao lado do sistema imunológico pode trazer um melhor entendimento sobre doenças como o câncer e doenças autoimunes.

Cientistas já mapearam, por exemplo, que neurônios de uma região de nosso cérebro chamada hipotálamo, são responsáveis por controlar sintomas como febre e perda de apetite durante uma infecção. E ainda, o estímulo desses neurônios, pode causar esses sintomas mesmo na ausência de uma infecção no corpo. Isto é, pode existir uma maneira de “hackear” nosso próprio sistema nervoso para que ele lide com doenças de formas específicas.

Ainda estamos um pouco distantes do momento em que isso tudo seja colocado em prática. Para isso, muita pesquisa ainda é necessária, juntamente com o esforço de entender o papel que a Psicologia pode ter em nosso estado clínico. Porém, diante disso tudo, é sempre extremamente curioso pensarmos o quanto nossos cérebros são capazes de entender sobre assuntos diversos como o universo, a formação de estrelas e buracos negros, e o quão pouco eles sabem sobre eles mesmos.

Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou

Fonte: TECMUNDO

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